É a pergunta que não quer calar: é possível se emocionar, a ponto de chorar, com um filme de super-herói? Nos últimos anos, diretores/autores como Christopher Nolan e Zack Snyder elevaram o filme de super-herói - Batman, Superman - a um patamar, digamos, trágico, rico em significados mitológicos. James Gunn vai por essa tendência autoral, mas com preocupações próprias, em Guardiões da Galáxia Volume 2. Volume 1 já era bom. O 2 é melhor. Foi o que prometeu o próprio diretor quando esteve em São Paulo na Comic-con Experience. Gunn não deixou por menos. "Se você gostou do primeiro, vai gostar muito mais do segundo”. Guardiões Volume 2 estreia, hoje, no Centerplex de Suzano. O primeiro foi aquele êxito planetário, atingindo, rapidamente, a marca antes impossível do bilhão de dólares. Entre um e outro, Chris Pratt estrelou Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros, que também faturou mais de US$ 1 bilhão. Chris Pratt, com dois filmes, o homem de US$ 2 bilhões? Aonde o levará o 3? US$ 3 bilhões? Para James Gunn, Pratt é um caso, e raro. "Ele tem o charme e o carisma dos astros de antigamente. É viril sem ser agressivo. Possui um recato natural, que imprime na tela, diante das mulheres. E Chris veste com propriedade a sua ‘suit’ (roupa/uniforme) espacial." No seu painel na CCXP, Gunn já havia dito que era certamente "menos assustador participar do evento com um personagens que o público já ama". Como Gustave Flaubert - "Madame Bovary sou eu" -, o cineasta disse: "Rocket, o guaxinim, sou eu. Identifico-me com ele. É um outsider. E Guardiães é sobre excluídos, por isso é tão bom receber essa resposta de vocês (o público entusiasta da Comic-con)". O público pode ver Volume 2 pela ação, pelo humor, pelos efeitos, sem se importar nem um pouco com a curva dramática. Pratt - Quill/Senhor das Estrelas - reencontra o pai, mas não o afeto. É bom não entrar em detalhes - olha o spoiler - para não tirar a graça da descoberta do filme pelo espectador, mas o princípio dramático fundamenta-se sobre a inversão. Temos o pai, e o padrasto. Onde está o amor? O de Quill por Gamora/Zoe Saldana não ousa dizer seu nome. Ele tenta - "Eu sei que você sente o mesmo que eu sinto" -, mas as palavras não são ditas. Serão no Volume 3, que Gunn também vai dirigir? Ao encontrar o pai, antes de tudo o que vai acontecer, Quill/Pratt diz que é bom pertencer a uma família. E Gamora/Zoe, com alguma decepção, diz - "Pensei que nós éramos sua família." Nós - Rocket, Groot, Drax e ela. Como informou o diretor, as relações estão muito mais sólidas. E há o aporte de atores como Kurt Russell e Sylvester Stallone - "Quando criança, eu fingia ser Snake (o personagem de Russell em Fuga de Nova York) e Rambo, e agora tenho esses caras no meu filme". Propositalmente, Gunn não mostrou imagens de Michael Rooker como Yondu Udonta na Comic-Con. É o personagem pivotal de Volume 2 - e um marco na carreira do eterno coadjuvante. Os que defendem o cinema como arte "realista" - um guaxinim falante! - talvez tenham dificuldade para entrar no clima, mas na era dos efeitos, e dos robôs que executam funções e dos hologramas, não há por que sentir estranhamento diante de Rocket, ou de Baby Groot, o graveto humanoide. Já Groot e Drax representam o humor no filme. Sobre a trilha sonora, na parte do 1 era sobre a ligação de Quill com a mãe que morreu e a única forma como ela permanece é através da música, senão teríamos de fazer infindáveis flash-backs. O 2 é sobre o pai (Ego).



