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Jornal Diário de Suzano - 13/12/2025
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Colunista

Rugido de leão ou miado de gato?

01 dezembro 2016 - 07h00

galdenciotorquatoHaverá inúmeras explicações para a vitória retumbante de Donald Trump no país que abriga a maior democracia do mundo, afora algumas já lembradas: a indignação silenciosa da maioria branca e rural norte-americana, que perdeu prestígio, poder e dinheiro na esteira da globalização; o ideário nacionalista que toma corpo sob o fluxo crescente de imigrantes, considerados invasores e destruidores de culturas nacionais; a tradição conservadora dos republicanos que não transigem sobre temas que lhes são sagrados, como o aborto; a identificação do eleitor por um perfil que encarne o conceito de mudança e seja contraponto à política tradicional. O fato é que a escolha do bilionário dos negócios imobiliários terá efeitos sobre a esfera da política em todos os recantos do mundo. Diferentemente de políticos tradicionais que se utilizam das artes cênicas para desempenhar papel de ator no palco eleitoral, Trump foi, ele próprio, o espetáculo. O eleitorado norte-americano não viu ou ouviu um arremedo de artista exercitando o discurso político, mas alguém do próprio mundo da diversão, que não mediu palavras para acusar, achincalhar, provocar medo, dividir a população. Trump fez questão de expressar palavras duras, sem receio de que suas atitudes fossem consideradas "politicamente incorretas". Incorporou o senso comum, interpretando a alma da maior parcela do eleitorado, apresentando-se como o único capaz de realizar o sonho de repor a América na antiga posição de grandeza ("Make America great again"). As democracias formam o terreno onde se desenvolvem os códigos éticos e morais. Mas o que estamos presenciando, nos últimos tempos, é a degradação de princípios e valores em razão das grandes promessas não atendidas pelas democracias, como lembra Norberto Bobbio, entre as quais a educação para a cidadania, a segurança coletiva, o combate ao poder invisível, a transparência dos governos, a igualdade dos cidadãos. A frustração social se expande sob a onda de disfunções e desvios nas estruturas do Estado democrático, como a personalização do poder, a política como negócio escuso, a deslealdade, as emboscadas, o que ensejou um recente ensaio da inglesa The Economist sobre o ciclo da pós-verdade. Exemplo desse painel de deturpações foi o discurso de Trump na campanha. Entre outras aberrações, disse que Obama não era cidadão americano; foi um dos criadores do Estado Islâmico; que os Clintons eram assassinos e mais: o pai de um rival de Kennedy esteve com Lee Harvey Oswald um dia antes de o presidente ser assassinado em Dallas. A manipulação, sabe-se, é coisa antiga. Hitler usou a mentira para dominar um povo. Políticos sempre usaram a falsidade para traduzir sua visão de mundo. Hoje, tornou-se instrumento para reforçar preconceitos. A "pós-verdade" faz parte do DNA do Estado-Espetáculo, onde Donald Trump toma assento na cadeira principal. Ele chega à cadeira de presidente da maior democracia mundial sem a estatura que o cargo requer. Para ganhar evidência, surfou na contracultura política, invertendo a cultura dominante. Puxou eixos cognitivos para se identificar com a maioria: a simplicidade ("sou do jeito de vocês"), a sinceridade ("falo e denuncio o que vocês estão sentindo") e a solidariedade ("minha alma é igual a sua, portanto, confie em mim e você está elegendo a pessoa que fará seu sonho acontecer"). Praticou o exercício de fuga da realidade. O Homem-Espetáculo adentra, assim, à Casa Branca, transformando-se no mais poderoso do planeta. Em oito minutos, pode acionar o botão de uma máquina, sempre carregada ao seu lado, e...boom..! provocar o apocalipse nuclear. As promessas e a fanfarronice de Trump serão executadas? Difícil. Por mais obtuso que seja o líder de uma Nação, será praticamente impossível, hoje, governar sozinho.

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