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Jornal Diário de Suzano - 14/12/2025
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Coluna

E viva a favela!

13 julho 2023 - 05h00

Na semana passada estive na Favela do Monte Cristo, em Suzano. Nos anos 80, o Jardim Monte Cristo era um bairro que parecia distante do centro de Suzano, separado do Jardim Imperador por uma estrada de terra, hoje pavimentada e absolutamente importante.
A região cresceu muito e em suas proximidades irá comportar um Hospital Público. A região também tornou-se palco de conflitos ambientais por conta dos maus tratos ao Rio Guaió e da construção do trecho Leste do Anel Rodoviário (Rodoanel) Mário Covas. Este bairro tem atualmente um assentamento humano absolutamente precarizado localizado na Avenida Paulista (do Monte Cristo) que se autodenomina Favela do Monte Cristo.
Muita gente resolveu chamar favela de comunidade, mas no Monte Cristo favela é favela. Eu gosto dessa forma de construir identidade e isso me remete à origem do termo. Na Guerra de Canudos descrita por Euclides da Cunha no livro Os Sertões, a cidade de Canudos ficava encravada junto a morros encobertos por uma planta conhecida popularmente por Favela. Alguns soldados que foram combater Antônio Conselheiro em Canudos ao regressarem para o Rio de Janeiro, capital da República, deixaram de receber o soldo, o salário, e tiveram que se instalar em barracos provisórios no Morro da Providência que começou a ser chamado de Morro da Favela em alusão à Favela de Canudos. Assim, favela tornou-se um assentamento humano precário e provisório. Acredito que aceitar o nome e atribuir a ele novos significados contribuem para enfrentar os estigmas da favela e dos favelados.
A favela do Monte Cristo tem aproximadamente 220 famílias. Conversei com várias dessas famílias e andei pelas vielas da favela. Não tem esgoto, o acesso à água é absolutamente precarizado, as habitações são de madeira, tem muito rato e muito lixo, resíduo sólido mal tratado, mal acondicionado. Além disso, segundo relatos dos favelados há um enfrentamento com o poder público local para o esvaziamento da área e remoção dos favelados. Esse conflito é compreensível porque essa área que outrora fora desvalorizada atualmente faz brilhar cifrões nos olhos de quem vê os benefícios da região e o futuro Hospital Público nas redondezas. O rico quer disputar a área, a classe média não quer ver pobre por perto, e o pobre quer permanecer na área que viu melhorar.
Fui chamado para conversar com os favelados que se organizam para lhes garantir direitos humanos de viver, ir e vir, morar, vestir, comer e dormir em segurança. A ideia era tratar da questão ambiental a partir da vida cotidiana, e neste caso há cinco elementos a serem discutidos: o ser humano e seus direitos como parte do meio ambiente; a água, formas de tratá-la e a garantia de seu acesso como Direito Humano; formas de energia para a efetivação das atividades cotidianas e garantia de segurança; resíduos sólidos; área verde vinculada à segurança alimentar.
Da conversa surgiram várias ideias, grupos de trabalho, compromisso de aproximação da universidade e dos centros de ensino formais da Zona Lesta para trocar saberes advindos da vida na favela e dos bancos escolares.
Esse artigo é parte dessa troca, do meu agradecimento aos líderes favelados e aos moradores que me convidaram par essa troca e por me permitirem conhecer um pouco de suas organizações e de suas lutas diárias. Estamos juntos. E viva a favela!