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Jornal Diário de Suzano - 14/12/2025
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Coluna

Vamos plantar PANC?

10 novembro 2022 - 05h00


Nem toda planta que se come convencionalmente nos dias de hoje era vista como alimento no passado, seja no Brasil seja em outros países. O brócolis e a alcachofra por exemplo já foram plantas ornamentais e não eram costumeiramente alimentícia. Da mesma forma, nem tudo que é convencional em uma região o é também em outra. A vinagreira, por exemplo, é consumida no nordeste, mas pouco conhecida e reconhecida como alimento no sudeste. 
Diante da diversidade de plantas nem sempre reconhecidas como alimento, o biólogo e pesquisador Valdely Ferreira Kinupp criou o termo PANC para designar exatamente "plantas alimentícias não convencionais" (PANCs). Kinupp sistematizou mais de duas mil espécies de PANCS no Brasil e reconhece estudiosos que elencaram mais de 12 mil espécies potencialmente alimentícias no mundo. As PANCs por sua diversidade representam uma riqueza biológica e genética e são fáceis de serem plantadas para uso imediato.
É curioso como o tema relacionado à comida, aos alimentos nem sempre convencionais, à diversidade de vegetais para se comer, chegou a mim em diversos momentos da vida e em circunstâncias muito diferentes. Ao falar desse assunto com a minha mãe, por exemplo, ela sempre lembra que em sua infância, no Vale do Paraíba, comia-se bertalha, flor de abóbora, taioba e ora-pro-nóbis. Era a comida do pobre que crescia fácil no jardim e na horta.
As mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana), por sua vez, moradoras da União de Vila Nova em São Miguel Paulista, em 2016, apresentaram-me o "peixinho", plantinha ornamental de folhas prateadas e felpudas que, levemente empanada e frita, torna-se um aperitivo delicioso. Elas comentam que muitas dessas plantas atualmente designadas como PANCs eram comidas por elas no Nordeste.
Tanto minha mãe quanto as mulheres do GAU chamam essas plantas de "comida de pobre". Não se trata de designar uma classe específica condenada ou agraciada por esses alimentos; mas de reconhecer em suas recordações, que essas plantas foram importantes em suas dietas, eram acessíveis, nem sempre rigorosamente plantadas e de baixíssimo custo.
Finalmente, lembro-me de José Arimateia, agricultor do município de Presidente Juscelino (MA) que me apresentou, nos idos de 2009, a vinagreira, comum na região, cozida no arroz (arroz de cuxá) e percebida como PANC em São Paulo.
Deixadas as lembranças de lado, e diante da inflação, dos salários baixos e da baixa diversidade de plantas em nossa dieta cotidiana, pode-se pensar como uma atividade escolar interdisciplinar pode nos ajudar a melhor conhecer e plantar PANC. Essa atividade incluiria:
" Mapear recursos disponíveis como terrenos baldios no entorno das escolas, pequenos e grandes espaços disponíveis, vasos e latas;
" Mobilizar saberes comunitários (conhecidos de diversas gerações que lidaram diretamente com a terra e acumularam experiência prática de plantio); e
" Reconhecer PANCs e ervas de fácil plantio adaptáveis aos espaços previamente mapeados.
Vamos plantar PANC? "Bóra plantar PANC!"