Quando vemos atitudes machistas e violência contra as mulheres acreditamos que são fatos novos, coisas do nosso tempo atual, onde as mulheres estão com mais liberdade e os homens possuídos pelo ciúme não conseguem refrear seu instinto cruel.
Essa violência sempre existiu, antigamente mais no interior dos lares dos casais, pois, até o casamento o namoro era sob os olhares da família, sempre controlado e acompanhado, dando assim poucas oportunidades de conhecerem o parceiro que estavam escolhendo para toda a vida, ali sob os cuidados dos pais o jovem aparentava respeito e dedicação.
Entretanto, após o casamento, sem nenhuma vigilância ou supervisão, dentro de um território que considerava seu, a sua índole verdadeira se revelava.
Aos poucos ia ditando as regras de convivência e determinando como queria que fosse a vida a dois, comportava-se como se fosse o proprietário e não o parceiro de vida da mulher.
Transformava-se... Virava dono e como tal podia decidir como iria viver a pessoa com a qual havia casado. Muitas vezes impedia que ela visitasse seus familiares sem sua companhia ou supervisão, limitava o seu mundo, decidia sobre o que vestiria e com quem podia conversar.
Pequenas discussões e desentendimentos podiam gerar atitudes violentas, batia na companheira e a submetia ao seu comando pelo temor.
Casamentos eram feitos para durar toda a vida, nem mesmo a legislação permitia que pudesse ser desfeito por completo e havia o poder religioso, que sob o manto dos desígnios divinos determinava que a mulher devia se submeter a autoridade de seu companheiro.
Sem rede social e sentindo vergonha, até porque se sentia responsável pela violência que lhe era impingida sofria calada, buscando ser a cada dia mais servil e assim acabava passível de mais violência e até mesmo de morte, que naqueles tempos não era passível de esclarecimentos, morria no parto, por consequência de tombos em escadas, quedas em piso molhado e para o agressor nenhuma punição ocorria.
As mulheres com o passar do tempo foram se fortalecendo, perceberam que suas vidas importavam, passaram a trabalhar fora do lar, até pela necessidade de colaborar com o companheiro para que tivessem uma vida mais tranquila e criassem os filhos com mais conforto, o tempo em que somente o homem era responsável pela manutenção do lar havia ficado no passado.
Começaram perceber que não eram as únicas a sofrerem violência praticada pelos maridos, que atitudes agressivas eram comuns em muitos lares, passaram a conversar e divulgar entre elas os problemas que viviam e se assemelhavam.
A visão policial também evolui, a mulher passou a ser mais ouvida em suas queixas nos plantões, onde antes eram motivo de chacota e tratadas sem um mínimo de dignidade, afinal se apanhavam era porque mereciam... Mesmo com essa evolução o comportamento masculino machista não mudou, continuaram entendendo que as esposas eram na realidade sua propriedade e deviam respeito, obediência e completa subordinação ao seu mando, nem mesmo sendo colaboradoras na manutenção da família e nas despesas mereciam respeito e continuavam sofrendo todo tipo de violência.
Infelizmente ainda existe a violência, apesar da liberdade dos tempos atuais, da proteção legal, homens ainda se sentem donos, mesmo quando o relacionamento termina e não conseguem entender o significado da palavra não. Não conseguem entender a rejeição ou o final de um relacionamento e a oportunidade de ambos buscarem novas alternativas de vida, ainda é proprietário da pessoa que no seu entender é sua, lhe pertence para sempre.
Nem quando já está em outro casamento consegue liberar a antiga companheira e se não pode manter o relacionamento e não é mais aceito, decide que ela não será de mais ninguém, prefere, se entendendo senhor absoluto dessa mulher, prefere matar, ceifar sua vida e não permitir que outra pessoa com ela viva em paz.
O não é não e assim deve ser entendido... Não quero mais, não desejo mais conviver, o amor acabou e qualquer outra motivação negativa tem que ser entendida como um ponto final no relacionamento.
A vida deve continuar, o final do amor não impede o bom relacionamento em prol da família que um dia criaram e que devem cultivar, mesmo que em vidas separadas.
Não é não e ponto final.




