Quando pensamos em oração, logo nos vem a ideia de orar, vocalizando as palavras. Damos valor ao volume, à entonação da voz, associando isso a gestos e a outras formas de expressão, julgando muitas vezes que esses comportamentos agregam mais poder às orações. Mas fica aqui uma indagação – poderíamos orar em silêncio? Poderíamos nos calar para ouvir o que Deus tem a nos dizer? Gostamos de cantar, gritar, ficar em pé, levantar as mãos, mas difícil coisa é ficar em silêncio para ouvir o que Deus tem a nos falar. A quietude não faz parte da nossa cultura, tão pouco de nossa natureza. O profeta Habacuque fala sobre ficar em silêncio na presença de Deus. “O Senhor está no seu santo Templo; que todos se calem na Sua presença”. (Habacuque 2:20) Falando sobre a presença de Deus no Salmo 139, o rei Davi enfatiza a onisciência de Deus. “Ó Senhor, Tu me examinas e me conheces. Sabes tudo o que eu faço e, de longe, conheces todos os meus pensamentos. Tu me vês quando estou trabalhando e quando estou descansando; Tu sabes tudo o que eu faço. Antes mesmo que eu fale, Tu sabes o que vou dizer!” (Salmo 139:1-4) Esse e outros textos bíblicos mostram que Deus escuta o que falamos como também sabe o que pensamos. Não existe um lugar em que possamos estar fora do seu alcance.
Fazemos uso de muitos recursos para orar. Pensamos que, por nos ajoelharmos, por estendermos as mãos, por orarmos alto, demonstrando autoridade, por fecharmos os olhos, Deus vai-nos ouvir melhor e nos atender prontamente. Mas não é assim que funciona. O profeta Jonas, por exemplo, orou de dentro de um grande peixe. Foi ouvido e atendido. Ana , mãe de Samuel, orou em silêncio. “Ana continuou orando ao Senhor durante tanto tempo, que Eli começou a prestar atenção nela e notou que os seus lábios se mexiam, porém não saía nenhum som. Ana estava orando em silêncio, mas Eli pensou que ela estivesse bêbada”. Sendo julgada, mas expondo a dor e a aflição que estava no interior dela, Ana saiu do Tabernáculo consolada e aliviada. “Então, Eli disse: - Vá em paz. Que o Deus de Israel lhe dê o que você pediu!” (I Samuel 1:12-18) A oração de Ana, aparentemente tão frágil, é a oração de uma mulher forte e corajosa. Ela era estéril. Queria um filho que seria dedicado ao Senhor. E o Senhor concedeu a ela não apenas o filho, Samuel, mas mais cinco filhos depois dele. Ana orou em silêncio, foi mal interpretada pelo profeta Eli; todavia, deixou para nós muitos ensinamentos na escola da oração. Ela tinha um problema e o levou a Deus. Há um hino do Hinário para o Culto Cristão, cuja letra diz: - “Oh, que paz perdemos sempre! Oh, que dor no coração! Só porque nós não levamos tudo a Deus em oração”. A oração de Ana veio do mais profundo de sua alma, mesmo sem pronunciar palavras em voz alta. Não foi uma oração comum. Foi uma oração sem pressa com a agenda do dia, uma oração sincera e comprometida.
Podemos orar em silêncio. Mas também precisamos ficar em silêncio para ouvir o que Deus está nos dizendo. Em certos momentos de nossa vida parece que não conseguimos ouvir e entender o que Deus está falando. Na verdade, Deus não fica em silêncio. Ele sempre está falando, seja através de Sua Palavra, dos acontecimentos, de um conselho, de um momento de reflexão, de um louvor, da oração, de uma profecia, de um sonho, de uma visão sobrenatural, e de tantas outras formas. Deus fala como e quando quer falar! Quando pensamos no “silêncio de Deus”, estamos nos referindo à demora na resposta que esperamos. Não é fácil gritar por socorro e não ter a resposta imediata; não é fácil orar por muitos anos sem que a resposta que tanto ansiamos venha; não é fácil esperar pela “plenitude dos tempos” em nossa difícil realidade. Quanto mais ficarmos perturbados, inquietos, alvoroçados, desesperados, mais difícil será ouvir a voz de Deus. O nosso Deus sempre nos ouve. Falando ou em silêncio derramemos os nossos corações diante do Senhor!




