Roberta Spinosa, cirurgiã-dentista com gestão no serviço da Saúde, é 2ª Vice-presidente da APCD-RMC (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas - Regional de Mogi das Cruzes) e embaixadora da Turma do Bem, maior ONG do mundo em número de voluntários especializados
O feriado de 21 de abril, data de morte de Tiradentes, nos convida a uma série de reflexões. Uma delas - talvez a menos óbvia -, é sobre os avanços da Odontologia no país.
Joaquim José da Silva Xavier era conhecido como Tiradentes por exercer o ofício de cirurgião-dentista. Após sua morte, tornou-se mártir da Inconfidência Mineira e patrono da Odontologia no Brasil.
Tiradentes viveu em uma época em que ainda eram arcaicos os tratamentos dentários e, para livrar os pacientes de dores agudas e pontos de infecção na cavidade bucal, a extração dos dentes era uma prática comum. Em razão disso, eram igualmente comuns os sorrisos sem dentes na população em geral.
Esse cenário mudou. Hoje, os cirurgiões-dentistas atuam sob a premissa de que se deve priorizar a preservação dos dentes dos pacientes, lançando mão dos mais diversos procedimentos antes de optar-se pela extração, o que só ocorre em último caso. Para isso, os profissionais contam com as melhores e mais modernas técnicas, possibilitadas pelo avanço das pesquisas científicas e aprofundamento do conhecimento especializado.
Podemos usufruir de uma Odontologia supermoderna, com uso de recursos altamente inovadores dentro dos consultórios. Isso inclui, por exemplo, o escaneamento intraoral, cirurgias teleguiadas, membranas de fibrina para regeneração tecidural, anestesia eletrônica, aparelhos ortodônticos invisíveis e porcelanas dentárias de última geração, entre outros. Infelizmente, porém, esses serviços ainda estão ao alcance de poucos.
Passados 231 anos da morte de Tiradentes, apesar dos avanços da Odontologia enquanto ciência, ainda é extremamente alto o número de brasileiros que acabam sendo submetidos à completa extração de dentes. Esse quadro foi revelado em 2010, quando foi realizada a última Pesquisa Nacional de Saúde pelo IBGE.
Os dados da época mostraram que pelo menos 16 milhões de brasileiros não possuem um único dente na boca, sendo que 40% das pessoas com 60 anos ou mais são completamente banguelas. São cidadãos que não podem sorrir com segurança e naturalidade, não podem mastigar de forma correta, não podem falar adequadamente e certamente vivem sob profunda baixa autoestima.
Agora, o Governo Federal prepara nova edição da Pesquisa Nacional de Saúde, já com os trabalhos de campo em andamento. Embora a tendência mais provável seja que a pandemia do coronavírus possa ter impactado negativamente o acesso dos brasileiros ao atendimento odontológico, espera-se que o novo levantamento nos aponte um cenário mais animador do que o registrado na década passada.
Queremos crer que os brasileiros tenham tido mais oportunidades de atendimento odontológico ao longo dos últimos 10 anos. Do contrário, é urgente que o poder público lance um olhar mais atento sob a Saúde Bucal no Brasil. Isso depende de investimento em todas as esferas de governo, com ampliação da oferta de serviços de atendimento primário e especializado, incluindo os procedimentos cirúrgicos.
Apenas com acesso sistemático a consultas odontológicas, os pacientes poderão ser diagnosticados e realizar os tratamentos necessários a tempo de que sejam salvos seus dentes e sorrisos. Somente com atendimento contínuo por parte dos cirurgiões-dentistas é que os brasileiros poderão ter resguardados seus direitos a uma Saúde Bucal íntegra e com dignidade.