É uma regra básica do esporte - e da 'arte-indústria' do cinema: não se mexe em time que está ganhando. Comediante de sucesso, recordista de bilheterias do cinema brasileiro, Fábio Porchat ousa fazer um papel dramático num filme sombrio. Entre Abelhas, que estreia hoje em Suzano e todo País, poderá surpreender os tietes do astro, mas, na verdade, é a concretização de um sonho antigo. Há nove anos, como Porchat lembra, "Ian e eu não éramos ninguém", refere-se a Ian SBF, que dirige o filme (e coescreve o roteiro com ele). "Teríamos sido linchados se tivéssemos levado o roteiro aos produtores." Agora, depois do sucesso de Vai Que Dá Certo, Meu Passado Me Condena e do Porta dos Fundos - que Ian dirige -, conseguiram parceria para bancar o filme ‘das abelhas’ Na trama, Porchat vê as pessoas desaparecerem ao redor, até ficar sozinho no mundo. É uma fábula social e política sobre a invisibilidade social, um mal que aflige a humanidade no limiar do século 21. Mas não se assuste se você é fã do ‘velho’ Porchat Ele não está dando uma guinada na carreira nem dizendo adeus ao humor. Simplesmente, como ator, que é, resolveu tentar algo diferente. Ainda este ano faz (com Ian) Porta dos Fundos - O Filme e estreia Meu Passado Me Condena 2. E, sim, está adorando ser cronista do Estado, mesmo que cada crônica seja, como diz, ‘um parto’. "Entre abelhas" é um filme cuidado, bem produzido e interpretado e que encerrou um desafio para o (jovem, também) diretor de fotografia Alexandre Ramos. Uma tragicomédia, porque não faltam momentos de humor, principalmente quando mamãe tenta fazer com que o filho veja um sujeito (e leva Luís Lobianco para dentro de casa). "O filme não tem paisagens de cartão postal do Rio porque queríamos que essa história desse a impressão de se passar em qualquer cidade brasileira." Existe uma explicação para o título - Entre Abelhas -, mas ele faz parte do estranhamento que o filme pode produzir. Porchat reconhece a dificuldade ‘em princípio’ - "O título pode não significar nada, mas justamente por ser estranho ele já gerou um ruído e as pessoas falam no filme ‘das abelhas’. Está sendo motivo de curiosidade." Uma das gratas surpresas é nos lembrar a bela atriz que é Irene Ravache. Nos últimos anos, ou papéis, Irene se cristalizara na representação de donas de casa insatisfeitas e simplórias, sem a complexidade que uma atriz do seu calibre poderia conferir às personagens. A mãe de Bruno (Fábio Porchat) vai além do estereótipo. Porchat contou ao repórter que algumas escolhas do elenco foram muito fáceis - Luis Lobianco e Marcos Veras entraram quase ao natural, na ‘brodagem’. Quando surgiu o problema da mãe de Bruno, o nome de Irene se impôs. Mas ela toparia? "A Irene não só topou como entrou no espírito da coisa. Ela não foi estrela e representava na onda da gente, como só uma grande atriz sabe fazer." A mãe de Bruno carrega o próprio sentido tragicômico de ‘Entre Abelhas’. Possui um arco (dramático). Poderia ser um clichê. É uma presença profundamente humana.