“Promessas de Guerra” é a boa estreia na direção de longas de ficção do ator Russell Crowe. Ele próprio interpreta o fazendeiro australiano que vai à Turquia em busca dos filhos desaparecidos na Batalha de Galipoli (1915), uma das mais sangrentas da 1ª Guerra Mundial. O começo da história mostra esse homem, Joshua Connor (Crowe), buscando água no deserto. Ao se deparar com um ponto que supõe propício, põe-se a cavar. A filmagem se detém algum tempo nesse trabalho e entende-se o porquê: ele representa um valor simbólico importante na história. Joshua é um homem que busca. É tenaz, não desiste diante da dureza de uma tarefa e vai até o fim em seus propósitos. Encontrar água no deserto, colocar uma fazenda em funcionamento, manter a família, eis o sentido da vida para um homem naquela época. Até o momento em que a guerra atravessa seu destino e lhe leva os filhos. Daí para frente, tudo será desolação. Culminando com a morte da esposa. Morte duvidosa, não se sabe se acidente ou suicídio, provocada pela dor. De modo que Joshua é um homem que busca. Desta vez não água, fonte de vida, mas restos mortais. Julga seu dever repatriar esses restos e enterrá-los ao lado da esposa. Deixa a Austrália e embarca para a Turquia, onde deverá encontrar o campo de batalha e, possivelmente, a sepultura dos filhos. Há duas coisas aí: Joshua é um homem determinado e nenhuma força vai se interpor entre ele e o que considera o justo a ser feito. É, também, uma pessoa à procura da explicação, esta outra paixão do ser humano. Queremos saber, como se a história completa de uma tragédia a fizesse mais suportável. Joshua quer entender o que aconteceu com os filhos. Naturalmente, temos um filme de longa-metragem a ser desenvolvido. Desse modo, Joshua, uma vez em Istambul, conhecerá um garoto malandro e encantador, Orhan (Dylan Georgiades), que o levará a uma pensão gerida por sua mãe, Ayshe, interpretada pela não menos encantadora Olga Kurylenko. Como todo herói incumbido de uma missão difícil (e piedosa, em seu caso), Joshua encontrará opositores e aliados. Afinal, pisa em território minado, teatro de uma guerra recém-encerrada que deixou um rastro de atrocidades e ressentimentos. O período histórico pode ter se encerrado, mas, na memória dos homens, se estende um pouco mais. Bastante mais, em certos casos. Por isso, Joshua enfrentará sérios obstáculos em sua busca pela verdade. E é aí que começam a funcionar os opositores e os aliados. Promessas de Guerra é um drama, mas aspira a ser visto, também, como aventura e entretenimento. Nesse sentido, será preciso imprimir-lhe movimento e ação. Às vezes, com certo exagero. Se Joshua não chega a ser um Rambo, às vezes parece meio inverossímil em seu desempenho nas lutas. Mas, enfim, quem fez Gladiador sempre guarda alguma afinidade com armas e combates. Tais exageros não chegam, no entanto, a parecer absurdos. Mas, nota-se que o filme é calibrado pelo menos um tom acima da normal fragilidade humana. Afinal, trata-se da jornada de um herói. No entanto, se Joshua tivesse uma dimensão menos invulnerável, talvez o personagem ganhasse com isso. Mas, nota-se, e essa é uma fragilidade do filme, a necessidade de satisfazer o desejo que o público sente de tipos imunes às limitações usuais dos seres humanos. Isso dito, é bom reconhecer que o drama é filmado com intensidade e precisão. O registro fotográfico, e o sonoro, passam verdade ao que se vê na tela. Bem montado, o filme tem ritmo e é envolvente. Russel Crowe, com seu ar triste, faz do seu personagem um tipo convincente, embora dê à história ar romanesco, com seu envolvimento com a bela dona de hotel (Olga Kurylenko). Sempre deve haver, também, uma criança que suavize as duras situações de pós-guerra lá encenadas. Há ação, como se disse, e um tanto de humor, para que o coquetel satisfaça o paladar de plateias maiores. Nada disso joga por terra o que há de mais importante e honesto no projeto. E Crowe é a própria imagem da integridade, como foi Henry Fonda em seu tempo.