Quanto mais as cidades crescem, acinzentam-se, mais percebo a necessidade do verde, dos olhos d´água, do meio natural. Da reaproximação do cidadão, do urbanoide com o meio natural.
Os municípios do Alto Tietê foram construídos nas várzeas do Tietê e de seus afluentes e o pouco que sobrou de várzea tem sido invadida, assoreada.
Essa semana fui almoçar no Jardim Keralux, perto da Vila Guaraciaba, Ermelino Matarazzo. É um bairro colado à USP-Leste, também várzea do Tietê. Cresceu muito. É impressionante a quantidade de moradias e estabelecimentos comerciais. As calçadas apertadas, ocupadas principalmente pelas crianças que saíam da escola. Em meio ao agito das crianças nas calçadas e à paisagem de tanta casa, eis que se observa um vaso aqui, um canteiro ali, uma jardineira de cimento, uma árvore. Foram plantadas, cultidavas em meio à calçada ou na borda da rua, algumas coladas ao muro da linha férrea. Disputam o espaço com carros e pedestres.
Logo o pensamento foi para a Cidade Miguel Badra, bairro de Suzano onde finalizei um projeto de extensão em que mapeamos o raio de um quilômetro da Escola Estadual Comandante Jacques Cousteau. Foram encontrados 65 terrenos baldios abertos (sem muros e portões) e fechados, tanto com características públicas quanto com características privadas (particulares). Além dos terrenos baldios, potenciais para a formação de hortas e pomares, conheci moradores que plantam suas flores, seus legumes, suas ervas, suas árvores.
E com a mesma velocidade em que meu pensamento saiu do Keralux para o Miguel Badra, minha memória voou para Suzano dos anos 90 e 2000:
" A casa do meu avô com um canteiro de aproximadamente 20m² em que se tinha ameixa, tangerina, limão, cana-de-açúcar, café, pitanga, salsinha, cebolinha, alface, rúcula, almeirão, couve, chuchu, louro.
" O galinheiro do meu pai. Sim! Meu pai criava galinhas. Eram várias espécies. De tempos em tempos, meu pai inventava de criar pato também. E no terreno de pouco mais de 100m² tinha limão cravo, amora, cereja, bananeiras, cana-de-açúcar, chuchu, abóbora, moranga.
A vigilância sanitária começou a reclamar das galinhas em área urbana. O galinheiro mudou de lugar. Foi para o Jardim Imperador e ganhou o nome de Fazenda Santo Antônio, ironia com o tamanho do terreno. Ali eram poucas árvores: uma goiabeira, uma romãzeira e cana-de-açúcar. Uma composteira grande e mais de 100 galinhas, além do moedor de milho.
É interessante lembrar da compra do milho, da venda dos ovos, da forragem do galinheiro com serragem, da distribuição do "forro" para amigos da agricultura que usavam-no como adubo.
O "quintal" era lugar para se embrenhar levemente com as plantas e as galinhas. Era outro mundo. Suzano está cada vez mais cinza, cada vez menos verde.
É preciso esverdear as cidades promovendo a formação de floreiras, hortas, jardins, o plantio de árvores. É preciso aproximar as pessoas da terra, das plantas, do verde, envolvendo as escolas, as Unidades Básicas de Saúde. É preciso aproveitar os terrenos baldios.
O esverdeamento da cidade cumpre múltiplas funções: melhora a sensação térmica, auxilia no escoamento das águas, colabora com o enriquecimento do solo, aumenta a segurança alimentar. É espaço de contemplação, do "tempo ao tempo", do respirar consciente.
A necessidade de reconexão com o meio natural requer valorizar os espaços verdes nas cidades cinzas que se expandem. Que o poder público se atente para isso.



