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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Agricultura Urbana em Suzano

25 setembro 2019 - 23h59
Nas zonas urbanas existem áreas fragmentadas e mesmo contíguas, sem nenhum funcionamento imediatamente produtivo. Esses terrenos ociosos, sejam eles públicos ou privados, podem representar um importante fator de produção de alimentos. Com base nisso, entre 1983 e 1986, o governo do Estado de São Paulo propagou a agricultura urbana em São Paulo. O Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (entidade filantrópica oficial mantida pelo governo estadual) e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento incentivaram a formação de hortas para amenizar os efeitos da recessão e do desemprego na mesa das famílias. Também foi envolvida nos esforços a Eletropaulo, companhia de transmissão de energia elétrica, à época uma estatal pertencente ao governo do Estado, que cedeu para cultivo terrenos de sua propriedade localizados sob linhas de transmissão. Um projeto-piloto foi lançado na Zona Leste da capital e, com sua repercussão positiva, a ideia foi aperfeiçoada, transformada em programa e difundida por todo o Estado. Em pouco tempo foram constituídas cerca de 250 mil hortas domiciliares, 5 mil hortas comunitárias e escolares em praticamente todos os municípios do Estado, colaborando com a complementação alimentar de mais de 2 milhões de pessoas.
Embora a iniciativa fosse governamental, sua lógica baseava-se no envolvimento e na participação da comunidade. Não se tratava de um governo que faz, realiza, implementa; mas que apoia e fomenta, ou seja, disponibiliza os recursos tais como terra, sementes, ferramentas, manuais, a partir dos quais a comunidade organizada materializaria a política. O Estado diagnosticava o problema e propunha solução, mas esta dependia da motivação e da resposta da comunidade.
Depois do final do governo Montoro, a agricultura urbana reapareceu de maneira mais ou menos simultânea, na primeira metade dos anos 2000, em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Campinas. Desta vez as iniciativas ocorreram nas esferas municipais, e os esforços não foram somente do Poder Executivo, mas em certos casos mobilizaram também o Legislativo. Nesta ocasião, as políticas eram implementadas pelo governo. Ou seja, se as iniciativas dos anos 80 haviam se caracterizado por um discurso de agricultura urbana baseada em mobilização comunitária, agora o discurso é centrado na ação direta do Estado.
Já entre 2005 e 2016, a agricultura permaneceu em evidência na agenda urbana sem que houvesse uma predominância de nenhum dos dois discursos anteriormente predominantes. Tratou-se de uma fase de "discurso misto".
Em Suzano, há uma zona rural cada vez mais diminuta em decorrência de várias formas de estímulo à urbanização da cidade mesmo em áreas de manancial; negligência com relação aos conflitos entre os muitos usos do território; penalização do agricultor e do morador da área rural em decorrência da ausência ou fragilidade de políticas públicas para essas porções do território.
Apesar disso, na área urbana, eis que brotam iniciativas de agricultura urbana. No dia 15 próximo passado, deparei-me com uma horta pequena e bem estruturada na Avenida Katisutoshi Naito, em frente ao número 1.163, Jardim Boa Vista. Nessa avenida há muitos terrenos. Este no qual está a horta é uma área pública triangular, com declive enorme. Parei o carro. Conheci o Paulo, que estava plantando uma árvore. Conversei. Ele mora no entorno. Segundo me disse, é o responsável pela organização do espaço: retirada do entulho, limpeza da área, colocação dos mourões, extensão do arame farpado para evitar a entrada de animais maiores como cavalos. Também é o responsável pela horta, pelo plantio de bananeiras e árvores como limoeiro e pitangueira, pela horta suspensa e pela composteira. Parece que nos mesmos moldes dos anos 80, a comunidade está tomando para si a iniciativa de organizar os espaços em que vive. Na calçada um ipê floresce. É a esperança de uma nova primavera.