MUNDO EM FOCO, todos os domingos.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu nesta semana uma declaração muito delicada sobre a relação com a Venezuela e que pode mexer com os rumos da geopolítica nos próximos meses e anos. O republicano autorizou o envio de 10 mil soldados americanos para os limites marítimos da Venezuela, aviões de guerra altamente tecnológicos e à CIA, agência de inteligência americana, para interferir na política do país e derrubar Nicolás Maduro.
Mas afinal, que consequências isso pode trazer? A resposta é uma só: consequências seríssimas para o atual cenário geopolítico, que tem como pilar a soberania dos Estados. Segundo Trump, a operação busca acabar com o narcotráfico que começa no país vizinho e escoa aos Estados Unidos.
Jamil Chade, um dos principais jornalistas brasileiros e que atualmente trabalha na ONU, comentou nesta semana que a ironia do argumento usado por Trump é de que a rota do tráfico que sai de Caracas, capital da Venezuela, com destino aos Estados Unidos, segue pelo Oceano Pacífico, principalmente, e não pelo Atlântico, local onde as tropas americanas estão.
E sabe o que tem por trás dessa história? Petróleo. Para quem não sabe, a Venezuela detém a maior reserva de petróleo do mundo. São 300,9 bilhões de barris. É disso que estamos falando, não de segurança contra as drogas. Os Estados Unidos são conhecidos, e isso não é opinião, e sim fatos, por interferir em outros países sempre com segundas intenções. Bush mandou invadir o Iraque "em busca de armas nucleares", mas nunca encontrou nada, só o petróleo. O Brasil tem na sua história um capítulo sobre isso: o golpe de 1964 nada mais foi do que a interferência americana contra possíveis candidatos com viés contrário ao exclamado em Washington.
E porque é muito grave a interferência americana na Venezuela. Longe de mim querer defender o tráfico internacional. Isso tem e deve ser combatido, mas a questão é: quem permite aos Estados Unidos invadirem um país com essa alegação? Não é permitido pelo Direito Internacional. Se você ainda tem dúvidas de que a atitude dos Estados Unidos não seja errada, pergunto: invadir a Venezuela seria diferente do que a Rússia fez na Ucrânia? Não seria, porque, volto a repetir, a soberania dos Estados é a principal lei que rege as relações internacionais.
Mas além de qualquer interesse oculto, os Estados Unidos querem passar um recado à América Latina: cuidado, que eu não tenho dó ou medo de tomar uma decisão dessa magnitude.
Justamente o Brasil, neste momento de negociação do tarifaço, também se vê em uma encruzilhada: Lula tem parceria com Maduro, são colegas, para dizer o mínimo. Com muito custo, o petista reconheceu que Maduro é um ditador e tenha perdido as eleições para presidente. Por isso, Lula seria uma peça importante nesse jogo político. Mas uma opinião emitida pode ser o fim do acordo comercial com os Estados Unidos, e talvez, pensando nas eleições de 2026, Lula não diga nada. Se disse, não será público, mas sim tratado na reunião com Trump nas próximas semanas. A questão e preocupação para nós, países vizinhos à Venezuela, é que uma guerra pode sim acontecer. Maduro é grande aliado de Vladimir Putin e Xi Jinping, respectivamente os presidentes de Rússia e China. É evidente que ambos não vão ajudar diretamente a Venezuela numa eventual guerra, mas os Estados Unidos também não enviaram tropas à Ucrânia quando ela foi invadida. Assim, além da atitude de Trump ferir os acordos internacionais de soberania dos Estados, pode ver escalar uma nova guerra, algo que ele criticou durante a campanha e se comprometeu a não iniciar nenhum novo conflito. Muita coisa está em jogo, e ao que parece, o mundo progride em tecnologia e regride em sociedade.




