Quando falo em coincidências na minha vida, vários me corrigem, “você está enganado, coincidências não existem, as coisas estavam programadas”. Então não vou repeti-las aqui. Mas, minha mulher e eu tivemos muitos dias 4 de mês de destaques ao longo de todos esses anos juntos.
A gente se conheceu num sábado, 4 de outubro de 1969, convidados para participarmos, “segurando vela”, como se dizia na época, no encontro de um casal. Ele, Antonio Carlos Guedes, o Guedão, meu colega desde o Ensino Médio, no Colégio Fernão Dias Paes, de Pinheiros, São Paulo. Ela, Raquel, amiga pessoal e prima da Cristiane. O casal e nós iniciamos nossos namoros. Eu era líder estudantil e a moça mostrou de cara que não aceitaria obedecer, vamos conversar, até discutir, não mais que isso. Para mim parecia legal. Mas no dia 17 daquele mês, sofri um acidente bem grave, quase morrendo e ficando hospitalizado por meses. A Cris me acompanhou pelo tratamento Hospitalar. No final daquele ano, minha família mudou-se para o Rio de Janeiro. Eu precisava de tratamento diário, fui junto, claro, e assim nos separamos. Cada um foi vivendo a sua vida do seu jeito.
Em 4 de janeiro de 1971, aquele casal de amigos ficou noivo e se casaram. Vim a São Paulo para revê-los. Cris e eu nos reencontramos e decidimos voltar o nosso namoro, ainda que vivendo distantes. Todo mês eu vinha para São Paulo. Os encontros eram excelentes para nós dois. Até que no dia 4 de julho, ao nos despedirmos na antiga Rodoviária, compramos alianças numa loja, eram de aço, o que havia. Simbolizava nossa união. Dizia da força dos dois juntos e das nossas ideias e sentimentos.
Chegando ao Rio, naquele mês de julho, dos nossos aniversários, escrevi um poema até hoje uma marca em nós. Ele nos expressa a vida de então que seguiu por essas tantas décadas. Chamei-o assim mesmo:
“Aliança de Aço”
“porque te encontrei numa estrela/ não pedirei mais luz/ nem mais calor/ surgiste em luar na escuridão/ de toda a minha cegueira/ refletindo mais longe/ tornando dias as noites/ porque era só/ triste perdido de alento/ fui feito amor e te amei/ do querer mais adulto/ do entregar mais maduro/ do amar mais puro/ porque me vi de esperança/ te vi sempre comigo/ sempre como agora/ com outros olhos outras mãos/ foi sentindo-me vivo homem/ ser além do nome/ te fiz mulher de amor/ chegando onde chegamos/ juntos”
Continuei vindo a São Paulo. E, em outubro, decidimos que deveríamos ficar juntos. Precisávamos um do outro. Eu viria para São Paulo, deixaria a Faculdade e o trabalho que vivenciava no Rio, no mercado primário de capitais. No entanto, não havia boas ofertas de trabalho para nós. Nossa pretensão mostrava-se difícil. Foi quando a Raquel e o Guedão propuseram que o melhor para todos nós era irmos para a Europa. Conversando com as nossas famílias, decidimos nos casar. O nosso casamento aconteceu no dia 4 de dezembro do ano, aqui mesmo em Suzano. E logo após o Natal partimos para a Europa, no navio “Augustus”, no porto de Santos.
Encantados nesse mais de meio século juntos. Com filhos e netas.



