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Caderno D

Filmes de Coppola envelhecem como vinhos e podem ser revistos no CCBB

04 julho 2015 - 08h00

Todo Coppola - bem, quase todo. Com exceção de Captain EO, que ele fez com e para Michael Jackson, a totalidade da obra de Francis Ford Coppola será revisada até 27 no CCBB e de 23 a 30 no Cinesesc. Voltam as raridades do começo da carreira do diretor, seus clássicos dos anos 1970, as experimentações dos 80 e 90 e os filmes bissextos dos anos 2000, que estão vendo a produção de Coppola se reduzir em função do prazer cada vez maior que ele experimenta produzindo vinhos. A revista de bordo da American do mês passado mostrou um retrato de família - Coppola, a mulher e os filhos, incluindo a filha Sofia, brindando o novo vinho com o selo do 'chefão'. Coppola está fazendo vinho artesanal, e gostando. O cinema, ele diz, está cada vez mais industrial - virou Coca-Cola. Coppola gosta de citar F.W. Murnau, que dizia que o som chegou cedo demais, quando o cinema engatinhava e os diretores ainda estavam aprendendo a fazer filmes. Com o som, os filmes viraram 'peças'. Existem exceções, claro. A própria obra de Coppola. Sempre valerá a pena rever a trilogia do Chefão, e Apocalypse Now, e O Fundo do Coração. Mas, assim como o diretor diz que a indústria detesta investir no novo - porque carrega sempre um componente de risco -, o espectador, jovem principalmente, deve arriscar e ver alguns Coppola 'diferentes'. Agora Você É Um Homem, A Conversação, Peggy Sue - Seu Passado a Espera, Jardins de Pedra. O release do evento define Francis Ford Coppola como 'cronista da América'. O Poderoso Chefão, que ele adaptou do best-seller de Mario Puzo, com roteiro do escritor, é sobre a luta pelo poder numa democracia étnica. Cuba no 2 e o Vaticano no 3 ampliam a crítica dos EUA no mundo. E o 3 é o melhor de todos, sorry. Agora Você É Um Homem é sobre a juventude sonhadora dos anos 1960. Jardins de Pedra é sobre o enterro da 'América' sacrificada no Vietnã - em Apocalipse Now. A Conversação é sobre o atoleiro de Watergate. O Selvagem da Motocicleta, sobre a juventude delinquente, e Tetro, sobre a juventude que se reinventa. Virginia, em 3-D, é a reinvenção do terror - de Demência 13, no começo da carreira de Coppola, com produção de Roger Corman. Finalmente, será possível tirar a dúvida - O Caminho do Arco-Íris, com Fred Astaire e Petula Clark, é mesmo tão bom como sustentam os que o cultuam? E Caminhos Mal Traçados é mesmo a pérola do road movie por volta de 1970? Tucker, sobre o criador do automóvel, é, na verdade, sobre o processo de criação no cinema. Ao rever Coppola, o cinéfilo deve se preparar para (re)descobertas.

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