Durante a semana, a mídia francesa dividiu-se entre as manchetes sobre a inauguração de mais um Festival de Cannes e o histórico encontro, no dia anterior, entre o presidente François Hollande e o lendário Fidel Castro, em La Havana. A França é um país curioso. Agora aliados, Hollande e a ex-mulher, Segolène Royal, por ele repudiada, estão sedimentando no Caribe a aliança política que poderá fazer dela sua vice-presidente na próxima 'presidentielle'. Enquanto isso, aqui em Cannes, os irmãos Coen estão vivendo a experiência de presidir o maior festival de cinema do mundo. "Não poderíamos dizer não. Esse festival fez muito por nós e nossa carreira", disse Joel. O irmão Ethan acrescentou - "Viemos muitas vezes e ganhamos todos os prêmios. Desta vez, estamos aqui para ver filmes, e premiá-los. É uma experiência nova e muito estimulante " A coletiva do júri é sempre uma vitrine para antecipar o que poderá ocorrer no fim do festival. O deste ano é o de número 68 e vai terminar no domingo, com a outorga da Palma de Ouro. Para quem vai é um exercício de futurologia descabido no festival que está começando. Os Coens já avisaram - "Vamos dar ordens conflitantes para o nosso júri. É assim que funciona em nossos sets. Tem dado certo. Esperamos que vá funcionar aqui também." O interessante é que o 'kid' pode atrapalhar o reinado dos coroas. O canadense Xavier Dolan ainda não chegou aos 30 e já tem uma extensa história no festival. Estiloso, gay, ele fez sensação ao dizer numa entrevista a Les Inrockuptibles que filma por uma necessidade visceral, quando as histórias que quer contar se tornam uma necessidade vital. E acrescentou - "É mais produtivo do que ficar me masturbando diante do retrato de Jake Gyllenhaal " Assim como Dolan, o ator também é jurado neste ano. E agora, Dolan, o que fazer com o belo Jake, ao vivo e colorido, ao alcance da mão? No ano passado, Gilles Jacob ainda era o presidente do festival. Em sua última seleção oficial, ele apostou no glamour e deu-se mal. O filme de abertura foi Grace, a cinebiografia da princesa de Mônaco por Olivier Dahan, o diretor de Piaf, com Marion Cotillard. Apesar de Nicole Kidman, o fiasco foi tão grande que o filme nem teve lançamento nos cinemas. Para sua primeira seleção, o novo presidente, Pierre Lescure, manteve o diretor artístico de Jacob, Thierry Frémaux, mas a abertura sinalizou em outra direção. Houve Catherine Deneuve, imperial como sempre, mas La Tête Haute abriu o 68.º Festival de Cannes em clima de incandescência social. A juíza Catherine e o professor Benoit Magimel tentam resgatar garoto da criminalidade. Educação é uma forma de amor. Abandonado à própria sorte, Rod Parador descobre uma atenção como nunca teve. Fica confuso, agressivo. A juíza não desiste. O filme é sobre o confronto dos dois. Há quatro anos, como atriz, a agora diretora Emmanuelle Bercot integrava a brigada de menores de Polisse, longa realizado pela atriz Maïween, que está de volta à competição. No intervalo entre os dois filmes, Emmanuelle dirigiu Deneuve em seu longa de estreia, Elle s'En Va, mostrando-a como avó que se lança na estrada com o neto. Catherine é um ícone, um mito. Emmanuelle a confronta com seu lado humano. Está tendo sucesso, mas a eterna bela da tarde não se arrisca a ganhar nenhum prêmio. La Tête Haute passou fora de concurso. O festival deste ano tem 19 filmes na competição. Cinco são franceses, de Jacques Audiard, Stéphane Brizé, Valérie Donizelli, Maïwen e Guillaume Nicloux. Três são italianos de Nanni Moretti, Matteo Garrone e Paolo Sorrentino, e dois americanos, de Gus Van Sant e Todd Haynes. Só esses três países, França, Itália e EUA, somam mais da metade da competição - dez filmes.