Despir-se das práticas calças jeans e camisetas folgadas para vestir uma série de peças de roupas na caracterização e interpretar uma mulher do século XIX poderia ser uma rotina cansativa para Julia Lemmertz. Mas a atriz, que vive a ambiciosa Dorotéia de "Além do Tempo", da Globo, não esconde que, na hora de se transformar na personagem, se diverte o suficiente para se sentir como uma criança em um parque. "Coloco o cabelo e uma maquiagem bem sutil e, na hora do vestuário, são tantos detalhes que me vejo como uma boneca Barbie! Adoro isso, é uma delícia", entrega. Na trama, Dorotéia é uma filha de operários que teve a sorte de se casar com um nobre rico e, assim, conseguiu alguma ascensão social. Mas, ao ficar viúva, descobre-se falida e deposita no casamento da filha Melissa (Paolla Oliveira) com o Conde Felipe (Rafael Cardoso) toda a esperança de reverter essa situação. Para isso, tenta estreitar laços com a Condessa Vitória (Irene Ravache), tia do rapaz, que a trata com desprezo por não ter o mesmo "sangue azul" da nobreza. "Essa relação entre as duas ainda vai render momentos muito bons para mim, como atriz, nesse trabalho", avalia Julia, que vê outro ponto positivo no texto de Elizabeth Jhin: aproximadamente na metade da novela, a história termina e recomeça nos dias de hoje, em reencarnações dos personagens do passado. "Isso é totalmente ousado e novo na TV brasileira. Estou orgulhosa e muito feliz por poder fazer parte deste projeto", valoriza. Em "Além do Tempo", o marido rico de Dorotéia morreu e a deixou falida. As tentativas nada éticas de se reerguer a partir do casamento da filha fazem dela uma vilã? Julia Lemmertz - É claro que as pessoas vão olhar e não vão achar certo o que ela faz. Mas não é uma mulher completamente do mal. Ela tenta sobreviver naquela situação e está aflita com o futuro. A Condessa Vitória (Irene Ravache) a trata muito mal por não ser de "sangue azul". E ela depende da filha para melhorar essa situação. Ela consegue virar o jogo com a Condessa? Julia - A Dorotéia tenta pegar um ponto fraco qualquer da Vitória. E vai logo no mais certo, que é a história do Bernardo (Felipe Camargo). Ele sumiu, todo mundo acha que morreu, mas não se sabe ao certo o que aconteceu. Dorotéia se envolve com o Bento (Luiz Carlos Vasconcelos) e, a partir daí, fica cada vez mais perto de descobrir a verdade. O que mais instiga você na hora de interpretar a Dorotéia? Julia - Ela me dá a possibilidade de brincar muito em cena. Tem um humor gostoso. E por ser de época, me fascina ainda mais. Adoro espartilhos, saias e aqueles cabelos armados. Tudo isso já é meio caminho para encontrar a personagem. Qual é a sua expectativa para a segunda fase? Quando acontecerá essa transição? Julia- A segunda fase a Deus pertence! Dizem que vai ser entre os capítulos 65 e 70, mais ou menos no meio da novela. Dá uma pena porque a gente se apega à primeira parte. E isso é raro: fazer uma novela e, na metade, mudar de papel. A vida passada só vai ser sabida pelo público, nenhum dos personagens conhece o que passou. Brinco que vamos depender dessa encarnação para nos darmos bem ou mal ali. A sua personagem vai continuar armando muito nos dias de hoje? Julia - As famílias vão se misturar e já sei que não terei os mesmos filhos nessa parte contemporânea. Nossos nomes serão mantidos, para não confundir os telespectadores. Mas nem todas as relações seguirão. E também desconheço se a Dorotéia terá algum traço de vilania. Aliás, é bom nem saber, para não me sentir influenciada. Agora, quero me dedicar apenas ao período de época. Nessa transição, vocês passarão por uma nova preparação? Julia - A gente pediu isso e acho que o Papinha (Rogério Gomes, diretor de núcleo) vai tentar atender. Mas dependeremos de ter uma boa frente. Olha, acho que vai dar. Já temos uns 50 capítulos escritos, estamos bem adiantados. Essa preparação que vocês tiveram incluiu algo sobre espiritismo, já que a trama aborda a reencarnação? Julia - Não propriamente. De uma forma bem leve, falamos sobre o assunto. A gente focou mesmo na primeira encarnação e a novela não é espírita. Você até supõe que a gente nasça e, de repente, tenha uma segunda chance para reencontrar as pessoas, consertar algumas relações. Mas não se trata de uma obra espírita. De uma hora para outra, a história se encerrará no século XIX e passará aos dias de hoje. Não será um risco recomeçar quase do zero se estiver em um momento de sucesso de audiência? Julia - Sim, mas é bom que seja um risco mesmo. Torço para que essa primeira fase seja um sucesso e a gente consiga ousar e fazer diferente.