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Caderno D

'Sal da Terra' e 'O Menino e o Mundo' são premiados no 2º Prêmios Platino

21 julho 2015 - 08h00

O Brasil não fez feio na 2ª edição dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-americano. Apesar de ter apenas quatro indicações, levou duas estatuetas - melhor documentário para Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Salgado, e melhor animação, para O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. A estatueta de atriz, que tinha na brasileira Leandra Leal uma forte concorrente (por seu trabalho em O Lobo Atrás da Porta), acabou ficando mesmo com a argentina Érica Rivas, de Relatos Selvagens. Aliás, esta foi um dos oito troféus atribuídos a Relatos Selvagens, o grande vencedor da noite. Além dos Platinos de melhor filme e atriz, recebeu os de diretor, roteiro, montagem, direção de arte, som e música original. Sobrou pouco para o resto dos candidatos. O super-favorito espanhol, La Isla Minima, ficou apenas com fotografia. O melhor ator foi Oscar Jaenada, por Cantinflas. E o melhor longa de estreante foi La Distancia mas Larga, da venezuelana Claudia Pinto. Os prêmios foram entregues em um cenário impressionante - o Starlite Marbella, na Cantera de Nagüeles, um grande auditório cavado em meio a uma pedreira, no alto da Sierra Blanca. Quem tem medo de altura, sofreu na estrada. Mas a paisagem, da qual se vislumbrava o Mediterrâneo ao longe, compensava o susto. Havia mais de 2,5 mil pessoas no auditório, homens em black-tie, mulheres de vestido longo. Várias celebridades do mundo prestigiaram a festa, como a veterana atriz Rita Moreno, porto-riquenha e dona de um Oscar por Amor, Sublime Amor (West Side Story). Também estiverem presentes o ator Edward G. Olmos e o boxeador panamenho Roberto "Manos de Piedra" Durán. Mas quem roubou a cena mesmo foi Antonio Banderas, acompanhado de sua nova e deslumbrante esposa, uma modelo holandesa. Banderas, é bom lembrar, é filho da terra, tendo nascido em Málaga. O ator, agraciado com o Platino de honra deste ano, despontou com o cinema com Pedro Almodóvar, mas, como lembrou em sua fala, teve de ir a Hollywood para se tornar um nome e rosto mundialmente conhecido. O discurso teve sentido político e foi muito aplaudido. Banderas repercutiu a ofensa de Donald Trump aos latinos. Trump andou dizendo que, deles, só vinham criminosos aos Estados Unidos, o que gerou reações revoltadas. Banderas lembrou uma coisa óbvia, mas nem sempre presente nas cabeças do povo latino, brasileiros incluídos - "Se não gostarmos de nós mesmos, ninguém o fará por nós". Quer dizer, o problema não é Trump ou a boçalidade do preconceito. O problema é a falta de autoestima mesmo. Pelo que se sentiu nos discursos da festa e também pelos bastidores, o Prêmio Platino vem com a clara intenção de divulgar o cinema ibero-americano e conquistar para ele mais espaço no competitivo mercado audiovisual mundial. Como se sabe, com raras exceções (como França, Coreia, Índia, China), a ocupação desses mercados é majoritariamente norte-americana. Os filmes de Hollywood, na maior parte dos países, vende mais de 80% dos bilhetes. Sobra pouco espaço para as cinematografias do resto do mundo. De modo que a instituição de um prêmio como este pretende ser não apenas celebração de "latinidad", mas busca racional de nichos de mercado. Se terá esse efeito a longo prazo, só o tempo dirá. O fato é que, durante a festa, destacou-se o grande número de coproduções, isto é, de cooperações financeiras e artísticas entre países. A começar pelo título vencedor, uma coprodução entre Argentina e Espanha. O Platino consagrou talvez não o melhor filme entre todos, mas aquele que mais agradou ao público e melhor viajou entre países. Relatos fez 3,5 milhões de espectadores em seu país e 500 mil no Brasil, proeza para um filme argentino. Foi muito bem em outros países do resto do mundo. É um latino de vocação global e talvez seja isto o que se busca.

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