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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Colunista

A arte de ignorar os pobres

15 junho 2017 - 08h00

John Kenneth Galbraith (1908-2006), economista canadense radicado nos Estados Unidos escreveu em 1985 um pequeno artigo chamado "A arte de ignorar os pobres" tão atual quanto vários de seus livros e artigos. A convivência entre ricos e pobres não é recente. Está na Bíblia. Está também nos escritos de Plutarco, filósofo grego nascido em 45 d.C. e morto em 120 d.C. Em termos mais modernos, Bentham, filósofo inglês (1748-1832) dizia que "a razão principal que aprova ou desaprova qualquer ação está em função de aumentar ou diminuir a felicidade da parte cujo interesse está em jogo". Em outras palavras, não há como fazer política redistributiva pois embora isso pudesse implicar no aumento de felicidade dos mais pobres, implicaria também na redução da felicidade dos mais ricos. Ainda nos mesmos séculos XVIII e XIX, David Ricardo (1772-1823) e Malthus (1776-1834) diziam que a pobreza dos pobres era culpa dos pobres. O presidente americano Herbert Hoover (1874-1964) acreditava, segundo Galbraith, que "toda assistência aos pobres interferia na operação efetiva do sistema econômico e tal assistência era incompatível com um projeto econômico que servia muito bem a maior parte do povo". Na contramão desse pensamento, Franklin Roosevelt (1882-1945) assumiu, quando presidiu os EUA (1933-1945), a responsabilidade com relação aos pobres, e criou a Seguridade Social para assegurar dignidade aos idosos; o Seguro Desemprego para os desempregados; o Alívio Direto para os mutilados e sem condições de empregabilidade; o Medicare e o Medicaid para os doentes. Uma onda de direitos sociais que compensava, em alguma medida, a lógica de acumulação inerente ao capitalismo. Como diz o adágio popular: alegria de pobre dura pouco! Desde meados dos anos 80, o discurso conservador para extirpar os pobres da consciência sem eliminar a pobreza da vida real está organizado em cinco eixos: 1.    O combate à pobreza deve ser feita pelo governo. No entanto, o discurso conservador veicula que governo é incompetente e corrupto. Sendo assim, sua ineficácia o impede de agir para reduzir a pobreza. O governo serve tão somente para piorar o que já está ruim; 2.    Segundo o mesmo discurso conservador, a incompetência está associada aos burocratas, altos, médios e do nível de rua (policiais, professores, médicos, profissionais de saúde). Portanto, é preciso reduzir a ação desses profissionais desqualificados. A ação do mercado é o caminho mais adequado; 3.    No terceiro eixo, o discurso conservador prega que a assistência aos pobres tem efeito adverso e apenas prejudica o pobre. Destrói a moral. Estimula a ociosidade. Incentiva o desemprego e a vagabundagem; 4.    O efeito adverso é duplo. Ao cobrar impostos dos ricos e transferir renda para os pobres, penaliza o esforço do rico trabalhador e incentiva a vagabundagem do pobre preguiçoso e desempregado; 5.    Finalmente, qualquer tipo de assistência ao pobre atenta contra a sua liberdade de escolha. Soma-se a isso o discurso e a ação da gentrificação, retirada dos pobres das áreas centrais e nobres da cidade. Se os cinco eixos de ação enunciados por Galbraith não fossem suficientes para eliminação dos pobres das consciências, age-se para retirá-los do convívio ou mesmo do campo de visão dos moradores ou dos "passantes" das áreas mais nobres da cidade. Galbraith morreu sábio em 2006 aos 98 anos e continua tão presente e tão atual

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