Sou muito grato às feiras e aos feirantes. Desde há muito tempo, vejo as feiras como espaços onde compramos frutas, verduras e legumes, comemos pastel e tomamos garapa.
E também como espaço de conversa, de trocas, de construção coletiva de muitos aprendizados. É um espaço de contato, de proximidade.
Com a pandemia e a intensa disseminação do vírus COVID-19 as feiras tornaram-se espaços de alta vulnerabilidade e provavelmente a vida dos feirantes e dos agricultores urbanos que vivem de suas hortas e de sua produção individual e familiar também ganha uma dose de vulnerabilidade e instabilidade.
A recomendação é o distanciamento social. Como cumprir a recomendação do isolamento social e preservar as feiras e os feirantes?
As feiras nessa medida nos dão uma oportunidade ímpar para refletirmos e agirmos em termos de garantia de segurança alimentar e nutricional, garantir isolamento social e reduzir a vulnerabilidade dos feirantes e hortelões.
Como a orientação é que as pessoas não saiam de suas casas ou apenas saiam para compras de produtos essencialmente necessários para a sobrevivência, as ruas podem ter o trânsito reduzido. E, assim, as feiras confinadas a um pedaço de rua ou a um "largo comprimido" podem ser expandidas de tal modo que o mesmo número de feirantes e de barracas fique distanciado um do outro, ocupando maior espaço nas ruas. Em vez de ocupar uma rua ou um largo, a feira pode se estender e ocupar o equivalente a cinco ou seis ruas, ajudando inclusive a manter o bloqueio de tráfego. As barracas mais distantes implicam em menor aglomeração.
Compradores e feirantes terão que se segurar em seus cumprimentos, apertos de mãos e abraços. Mas é temporário. Ao mesmo tempo terão que usar máscaras e luvas e o burburinho típico das feiras também temporariamente ficarão suspensos, abafados pelas máscaras.
Do ponto de vista da renda, pode-se pensar na produção de cestas alimentares orgânicas e convencionais, pagas nas feiras e entregues ao longo da semana nas residências. Isso, evidentemente, exigiria certa organização dos feirantes quiçá mediada pelo poder público.
Finalmente, pode-se propor um subsídio público para a aquisição de maquinetas de crédito/débito para reduzir a circulação das cédulas de dinheiro, consideradas perigosas nesse momento.
As feiras, assim, com esse novo formato temporário, apesar de perder parte de sua graça, contribui para garantir abastecimento alimentar; bloqueio do transito e renda aos feirantes.
Enfim, são ideias que constituem uma primeira rodada de proposições para pensar a manutenção das feiras e da renda, elucubrações de um apaixonado pelas feiras e feirantes, hortas e hortelões, e do burburinho das feiras sem, no entanto, ter ouvido uma das partes interessadas: os feirantes. Eis o passo fundamental: escutar e dialogar com os feirantes.
Seria possível reduzir a vulnerabilidade dos feirantes e criar novos formatos temporários de feiras?