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Jornal Diário de Suzano - 19/04/2024
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Coluna

A Idade Média não acabou

28 abril 2022 - 05h00

Não são poucas as histórias que têm um rei como o personagem principal ou integrante do núcleo de destaque do enredo. E o estereótipo desse rei é conhecido: um homem de caráter nobre e honrado, de conduta justa e bondosa e que não pensa duas vezes para desembainhar a espada e defender o povo e o reino. Figuras como o personagem "Aragorn", da obra literária " O Senhor dos Anéis", do escritor britânico J.R.R. Tolkien, então, o "rei-herói" britânico mais famoso do mundo, o lendário Rei Arthur, são exemplos desse simbólico modelo de um "monarca perfeito". Personagens que, além do papel que representam em suas histórias, têm em comum a personificação de um desejo que o ser humano carrega há séculos. A de ser liderado, guiado por alguém que seja capaz de assumir todas as responsabilidades pela segurança, desenvolvimento e prosperidade do país (reino).
O problema é que, na vida real, os reis e rainhas que governaram países e impérios ficaram mais conhecidos pelos abusos que o poder ilimitado lhes permitia cometer, do que por reinados de bondade e justiça.
Calígula, o terceiro imperador romano, por exemplo, criou um reino de horror. De acordo com os registros históricos, Calígula matava pessoas por diversão. Não poupando nem as crianças que eram decapitadas ou estranguladas na frente das famílias. Ricardo III, que assumiu o trono da Inglaterra em 1483, não foi muito diferente. O último monarca inglês a morrer no campo de batalha, ficou marcado como o mais controverso rei britânico, um usurpador que matou os sobrinhos ainda crianças para virar rei. Não à toa, cansados das injustiças e abusos da monarquia, os franceses fizeram a revolução que começou a pôr um fim no sistema monárquico de poder. Foi a partir dos ideais que nortearam a Revolução Francesa que surgiu o sistema democrático de governo. Na Democracia o poder é compartilhado, tornando cada cidadão responsável pela escolha e caminhos de uma nação. E para que exista equilíbrio entre os poderes, eles se fiscalizam e vigiam em um conjunto de critérios chamados de "freios e contra-pesos". Um sistema de governo mais justo e que, teoricamente, trata cada cidadão da mesma maneira. Porém, o sonho de deixar tudo nas mãos de uma só pessoa parece nunca acabar. Para termos certeza disso, basta lembrarmos de figuras como Hitler, Mussolini e Lênin. A eles foram dados os poderes para fazerem o que quisessem e, ao invés do "reino sonhado", cometeram as barbáries que ficaram registradas na história. Nos dias atuais, podemos ver a história se repetir com Putin, na Rússia, e o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes, Mohammed bin Salman, que mandou matar o jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia.
No Brasil, infelizmente, o cenário não é diferente. Decepcionados com algum dos poderes que compõem a nossa Democracia, não são poucos os cidadãos que defendem o fechamento do Congresso Nacional e o do Supremo Tribunal Federal. Para essas pessoas, Bolsonaro deveria ter o poder para fazer o que quisesse sem ter os poderes legislativo e judiciário para "atrapalhá-lo". Assim, como um tipo de rei, ele criaria as leis e tornaria todo o povo submisso à sua vontade. Fosse ela a mais absurda o possível. Tá aí o porquê a Idade Média também é conhecida como a "Idade das Trevas".