A insegurança das famílias em relação ao mercado de trabalho é o principal fator de redução do consumo nos próximos meses, embora a inflação elevada e a alta de juros também contribuam para a maior cautela. Com a deterioração em todos esses indicadores, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 6,1% ante fevereiro, atingindo pelo segundo mês consecutivo o mínimo histórico da série, iniciada em janeiro de 2010. Os bens duráveis são os principais cortes do orçamento: quase metade das famílias acha que é um mau momento para adquirir esse tipo de produto, informou ontem a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). "As famílias estão ficando mais inseguras em relação à renda futura e ao emprego", afirmou a economista da CNC Juliana Serapio. Segundo ela, a desaceleração do mercado de trabalho gera essa incerteza e explica a cautela das famílias na hora das compras. "Elas tendem a evitar o consumo de itens desnecessários por conta do orçamento mais apertado e dos juros mais altos." Ontem, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostraram o fechamento de 2,4 mil postos de trabalho em fevereiro - terceiro mês seguido de saldo negativo. Já a taxa de desemprego medida pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas ficou em 5,3% em janeiro, contra 4,8% em igual mês de 2014. A inflação também preocupa os consumidores. Em fevereiro, notou a economista, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,22%. "A inflação de transportes acelerou muito em fevereiro, principalmente gasolina e diesel. A alta do dólar também contribui, pois acaba sendo repassada a alguns produtos, como o trigo, um produto bastante básico, que provoca aumentos nos pães", comentou Juliana. A pesquisa mostra ainda que os bens duráveis devem ser os mais afetados pela decisão dos consumidores. Ao todo, 49,7% das famílias dizem que é um mau momento para adquirir esse tipo de produto. Segundo a CNC, a taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas, de 52,62% ao ano em janeiro (o maior patamar da série do Banco Central) também é um grande inibidor desse tipo de gasto. "Até agora, com as perspectivas nada animadoras, não vejo reversão desse quadro", afirmou Juliana. Diante das sinalizações das famílias, o quadro não é nada alentador para o comércio.