A crise entre o governo Dilma Rousseff (PT) e Congresso chegou ao auge na tarde de ontem e fez a primeira vítima no primeiro escalão. Minutos depois de o PMDB ameaçar deixar a coalizão governista, o ministro da Educação, Cid Gomes, foi demitido do cargo pela presidente Dilma. Tensa, a relação entre Executivo e Legislativo registrou o nível máximo de desgaste depois que Cid, dedo em riste em direção à Mesa Diretora da Câmara, afirmou preferir "ser acusado por ele de mal educado", o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), "do que ser como ele, acusado de achaque". Em tom de enfrentamento, Cid disse não concordar com a postura de quem "mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm uma postura de oportunismo". "Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo", afirmou. A sessão transformou-se em um intenso bate-boca que culminou com o abandono da sessão pelo então ministro. O PMDB ameaçou retaliar o governo retirando seu apoio no Congresso e Cid seguiu ao Palácio do Planalto, de onde saiu demitido pela presidente. Sua demissão foi anunciada por Eduardo Cunha a partir de informação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Cid foi convocado ao plenário da Câmara para explicar declaração, feita há três semanas, em Belém, de que haveria na Casa "de 300 a 400 achacadores" que se aproveitam da fragilidade do governo para obter vantagens. Cunha chamou o ministro de "mal-educado" e garantiu a convocação, proposta por Mendonça Filho (DEM-PE), para que Cid esclarecesse suas afirmações. Sem nenhum gesto de apoio nem intervenções de lideranças do governo ou do PT, deputados de partidos de oposição e independentes se revezaram ao microfone pedindo a demissão de Cid. Deputados lembraram escândalos da vida pública do ministro, como a contratação de um show de Ivete Sangalo para a inauguração de um hospital em Sobral, sua cidade natal, por R$ 650 mil, a viagem para a Europa em que levou a sogra em jatinho pago pelo governo do Ceará e a tentativa de vetar a circulação de uma revista que o apontava como suposto envolvido no esquema de corrupção da Petrobras. Cid deixou o plenário antes do fim da sessão. "Infelizmente fui convidado e agredido. Nesta condição, penso eu que estou liberado para sair do recinto e é o que estou fazendo", afirmou em meio a um tumulto formado por militantes e seguranças. O ministro entrou em um carro e saiu ele mesmo dirigindo.