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Jornal Diário de Suzano - 26/07/2024
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Dia do Jornalista

Professora propõe discussão sobre jornalismo e prega cobertura plural

DS esteve na Faap para conversar com a coordenadora. "Há uma questão no jornalismo que não está colocada"

07 abril 2024 - 14h00Por Edgar Leite - da Reportagem Local

A jornalista Edilamar Galvão, mestre e doutora em Comunicação-Semiótica e coordenadora de curso da Faculdade Armando Alvares Penteado (Faap), defendeu, esta semana - em entrevista ao DS - , a necessidade de se discutir o que é o jornalismo em meio às mudanças digitais e tecnológicas do mundo atual. “Dentro dessa massa de comunicação tem entretenimento, publicidade, blogs, conteúdos individuais, influenciadores, etc. Em que lugar está o jornalismo?”, questionou. Para ela, essa discussão é hoje crucial.

Neste domingo, dia 7 de abril, comemora-se o Dia do Jornalista. O DS esteve na Faap para conversar com a coordenadora. “Há uma questão no jornalismo que não está colocada para qualquer pessoa que produz conteúdo. O jornalismo responde por aquilo que publica. Isso é importante. Significa ter responsabilidade”, explicou.

Durante entrevista, ela citou como exemplo o caso de uma moça que cometeu suicídio após uma página nas redes sociais publicar suposto relacionamento amoroso com um famoso. O dono da página, ao ser questionado, lembra a professora, afirmou que não tinha o dever de checar o que estava publicando e que só colocava “no ar” o que “já estava sendo dito em outro lugar”.

“Nessa hora alguém requer o direito de publicar informações, mas quando recai sobre ele uma responsabilidade diz: Opa, não sou jornalista”, acrescentou.

Para Edilamar, é preciso discutir uma autorregulamentação. “Avançar a discussão entre acadêmicos, profissionais do jornalismo e veículos- empresas. Mas, não vejo que será bem-vinda uma regulamentação, por exemplo, que venha do governo. Mas entendo que é uma discussão que precisa avançar”, acrescentou.

Tem de estar nessa discussão, defende, os veículos centenários, a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Abraji, entre outros órgãos, e todos os campos jornalístico e acadêmicos. “Hoje, o que está categorizado como veículo jornalístico? As pessoas precisavam saber diferenciar”.

Existem iniciativas que começam a entrar em discussão, inclusive, para instituir uma espécie de “selo de qualidade jornalístico” com implementação de critérios para diferenciar a atividade oficial daquelas que “parecem ser”, afirma a coordenadora. 

“Mais do que ter um selo será preciso determinar, dentro do vasto campo da comunicação, aquilo que se pode chamar de jornalismo”, acrescentou.

PLURALIDADE

Um dos critérios seria a pluralidade, segundo ela. A objetividade no jornalismo é a pluralidade dos meios de comunicação. A professora cita que a revolução digital permitiu enorme fragmentação na sociedade, mas positiva também. “Muitas pessoas que nunca se sentiram representadas encontraram suas ‘turmas’, principalmente quando falamos do público LGBTQIA+, por exemplo. Quem tinha condição de vulnerabilidade psíquica afetiva pôde por meio da revolução digital saber que existia um outro igual a ele”, explica. “Há quem diga para as pessoas saírem das bolhas. Mas algumas bolhas salvam vidas”, acrescentou.

Mas tudo pode ser usado para o bem e para o mal, afirma. “Os extremistas também fizeram o mesmo. A gente sabe que essa revolução digital permitiu extremistas de se organizarem também”, disse.

Ela afirma que, lamentavelmente, com a polarização do País, há pessoas dispostas a consumir um veículo sem abordagem plural. “Há grupos que querem ouvir só aquilo que pensam”, acrescentou.

“O pior é que vão surgindo veículos para atender esse tipo de demanda”, acrescentou. Veículos comprometidos ideologicamente e que falam para os seus convertidos, segundo ela. “Essa dimensão da esfera pública vai se fragmentando, criando ilhas incomunicáveis”, disse. Para a professora, no entanto, há excelentes veículos jornalísticos no Brasil, um jornalismo profissional atravessando momentos de muito desafios. 

Na opinião de Edilamar, a pandemia mostrou como é essencial o jornalismo de serviço, principalmente. 

Os veículos tiveram de superar as diferenças da concorrência e montaram um consórcio para informar o público sobre os infectados pela Covid -19. 

Recentemente Edilamar foi apresentada a uma pesquisa dando conta de que os maiores replicadores de desinformação são pessoas na faixa de acima dos 40 anos, pessoas que não eram nativas digital. Para ela, o jornalismo pode fazer parte da consciência crítica, mas a formação de um ser humano é muito antes, mais complexa do que somente assistir um telejornal, ler um jornal, uma revista, ou seja consumir informação de veículos jornalísticos. Ela afirmou que as pessoas também podem ser aquilo que consomem. “Assim como a gente alimenta o corpo, a nossa mente é resultado do que se vê lê, ouve e conversa. Então escolha bem isso. Quando você escolhe um veículo jornalístico sério para se informar é como se você tivesse escolhendo uma alimentação de qualidade para o seu corpo”.