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Jornal Diário de Suzano - 26/07/2024
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Coluna

Escola ao Ar Livre

30 setembro 2020 - 05h00
Nas última semanas, tenho acompanhado os debates sobre o retorno às aulas. Há muitos argumentos: pedagógicos, psicológicos, econômicos, dentre outros.
As preocupações de caráter mais pedagógico dizem respeito ao processo de aprendizagem das crianças e dos adolescentes diante dos limites das aulas a distância sem a possibilidade de aulas presenciais e à inabilidade dos professores em substituir a prática docente presencial.
As preocupações de caráter psicopedagógicos incluem a importância da sociabilidade e os limites da vida dentro de casa ou do apartamento e a angústia e o estresse gerados por excesso de atividades diante da tela.
As preocupações de caráter econômico estão a necessidade dos pais retornarem ao trabalho e o quanto nossas vidas estão condicionadas a deixar as crianças em escolas e creches; e a crise financeira dos estabelecimentos de educação privados.
Em meio a esse debate sobre o retorno às aulas, observo oportunidades perdidas relacionadas, por exemplo, à criação de um movimento para a redução da jornada de trabalho para que as pessoas possam se dedicar mais aos afazeres domésticos que, embora não entrem na contabilidade do Produto Interno Bruto (PIB), consome parte substantiva de nosso tempo.
Outra oportunidade perdida é relativa ao ambiente escolar. Naturalizou-se a organização da escola em classes de aula "seriadas" e na disposição das carteiras escolares em fileiras. Mal paramos para refletir que essa organização acompanha um padrão industrial de hierarquização (a primeira fileira e o fundão) e otimização do espaço.
No início do século passado (1904), entretanto, como resposta pedagógico-sanitária à crise sanitária decorrente da tuberculose (doença bacteriana), surgiram na Alemanha e na Bélgica as "Escolas ao Ar Livre". Chamadas de "écoles de plein air" na Bélgica e na França, "open-air schools" nos países de língua inglesa, chegaram ao Brasil sob a denominação de "Escola ao ar Livre". A professora Diana Vidal publicou no Jornal da USP (05/08/2020) artigo recuperando essa experiência.
Para a professora Diana Vidal (USP) esse tipo de escola ao ar livre foi a semente para a defesa de um ensino mais próximo da natureza, com protagonismo juvenil, engajamento das crianças em projetos práticos, articulando atividades físicas e desenvolvimento intelectual e emocional nos quais o professor cumpria papel de mediador, em vez de repositório de conteúdo. Essas escolas perderam força. No entanto, agora, com uma nova pandemia em que o vírus (Covid-19) se prolifera mais em aglomerações e espaços fechados, há uma oportunidade para se refletir sobre as "escolas ao ar livre".
Atualmente, os equipamentos públicos e privados de ensino, em geral, não estão adaptados a essa nova demanda. É preciso, portanto, quando se definir pela volta às aulas com alguma margem de segurança e aval das autoridades sanitárias, que se aproveite a oportunidade para retomar também estratégias pedagógicas lastreadas na experiência das "escolas ao ar livre". Praças acolhendo grupos pequenos de crianças e adolescentes por um lado; e a população se despertando para a falta de espaços verdes nas cidades e mesmo nas escolas.
Desde a Caxemira, na divisa entre Índia, China e Paquistão, até a Noruega e a Califórnia (EUA) se discute o assunto das escolas ao ar livre. É hora do tema ganhar força em nossas agendas sobre educação.
O melhor a fazer ainda é a prevenção por meio do distanciamento social, do uso de máscaras, álcool gel, água e sabão para a lavagem constante das mãos. Esse último semestre do ano, portanto, antes de se pensar na volta tumultuada às aulas, deve-se construir espaços e ambientes propícios para reflexões sobre nossos aprendizados ao longo do ano que transcorre e para definir cenários e estratégias para o ano vindouro.