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Jornal Diário de Suzano - 07/05/2024
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04 novembro 2019 - 23h59
Quando aprendi as primeiras letras e consegui as organizar em palavras, ganhei do meu pai um caderno de capa preta e dura com um laço de fita rosa, falou que ali eu deveria escrever os fatos interessantes do meu dia e que seria para mim uma grande surpresa, quando anos mais tarde me desse ao trabalho de reler esses escritos.
Achei a ideia interessante, pois a vida de criança é sempre cheia de novidades, a todo momento fazemos uma nova descoberta, uma nova amizade, satisfazemos uma curiosidade, mas acreditei que escrever tomaria meu tempo de brincadeira...
Como descrever tudo sem perder horas de laser no quintal de nossa casa, na companhia de irmãos e coleguinhas.
Entretanto, meu pai era persistente e acabou me convencendo a me acomodar por quinze minutos todos os dias ao entardecer e resumir o que acontecera de importante, de diferente no meu cotidiano e cresci dando continuidade nessa ideia.
Hoje tenho inúmeros cadernos e agendas com anotações de fatos que aconteceram e marcaram por algum motivo o meu dia ou a minha vida.
Agora, com mais tranquilidade, resolvi colocar algumas coisas em ordem, me desfazer de outras que não são necessárias e como dizem criar novos espaços para possibilitar a entrada de coisas novas, de novas oportunidades... Abrindo novas janelas para a vida...
Nessa organização fui localizando todos esses cadernos e após coloca-los em ordem cronológica, estou revendo meus escritos e relembrando caminhos que já fiz amizades que marcaram indelével, outras que mantenho contato até os dias de hoje, pequenos acontecimentos que pareciam insignificantes e relendo percebo quanto foram importantes em minha formação.
Com o passar dos anos a escrita foi se aprimorando, dos primeiros cadernos com as letras ainda sem firmeza e as frases meio desconexas, para o aperfeiçoamento natural que ocorre com todo ser humano. O aprendizado do uso da pontuação, dando ênfase para este ou aquele assunto, para um fato marcante, para a notícia triste ou alegre, que determinou a mudança de rumo na trajetória imaginada ou programada...
Abrir o diário onde descrevi a felicidade do meu pai quando entrei para a faculdade de direito, das conversas que tínhamos e que prosseguia madrugada adentro, dos conselhos, das pequenas lembranças guardadas entre suas folhas, como a rosa que ele roubou num jardim e me deu falando do quanto se orgulhava dos filhos que tinha e de mim sua filha mais velha, a primogênita, como gostava de dizer.
A falta que fez quando partiu...
Relembrar a ansiedade dos dias que antecederam o casamento, as conversas e planos para uma vida a dois, um mundo desconhecido que iriamos desbravar juntos, um apoiando o outro.
As dificuldades inerentes ao início da vida em comum, os conselhos maternos e a alegria da gravidez que trazia encantos e situações completamente novas, cheias de sonhos e planos...
Cada caderno que releio é um pedaço da minha vida que revejo vagarosamente, relembrando fatos que ali me esqueci de colocar, mas que minha mente traz à tona com nitidez hora me fazendo sorrir hora permitindo que as lágrimas escorram livres, mas que vale a pena ser revivido...