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Jornal Diário de Suzano - 08/05/2024
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Coluna

As Palavras Soltas

15 maio 2020 - 23h59
É verdade, tem vezes que a palavra nos chega leve e solta. Tem vezes que ela nem nos chega. Aí você solta aqueles chavões do tipo: "faltam-me palavras para expressar..." e por aí vai. Um estudioso de Linguística, aquela ciência que trata da nossa linguagem verbal, deu o nome dessa expressão de "topoi". Já vi essa expressão aplicada em outra coisa. Enfim, mais uma figura de linguagem que só os especialistas vão saber. 
Enfim, vim desta vez para conversar com vocês, "meus caros leitores", como dizia o mui amado Machado de Assis, sobre essa necessidade que adquirimos, como seres humanos, de nos comunicarmos. 
Na realidade, vamos pensar juntos, nesses tempos de facebook e assemelhados, o que queremos, lá no fundo, é dizermos algo. E esse algo pode ser só a necessidade de falar ou escrever para alguém. Sentir que somos ouvidos, que existe alguém do outro lado da linha. O fato é que o silêncio está imenso nesses nossos tempos de endemias. 
Recebo mensagens de gente com muita raiva ou deprimida ou tudo negando ou revoltado de ter de se submeter. E lá vou eu repetindo "levanta, sacode a poeira, dá volta por cima..."
Caramba, gente, o que queremos mesmo é acabar com a solidão dentro de nós. E a solidão é a síndrome mais marcante da nossa era, com metrópoles de milhões e milhões de pessoas que passam, com pressa, sem se verem, nervosas, irritadas, ansiosas por algo que tem de fazer, que nem sempre lembram, mas que incomoda ter de fazer e, tantas vezes, não fazer, não conseguir fazer.
Mas vamos lá, faltam-nos palavras. Não, na realidade as palavras estão dentro de nós. Temos o nosso vocabulário, e, quase sempre ele é suficiente para o nosso gasto. E só aumenta o vocabulário quem lê mais e mais, que se pergunta sobre o significado de certas palavras, quem vai aos dicionários, quem as reaplica em suas próprias falas. E essas coisas, falar mais e melhor, se aprende pela prática, exercitando cada vez mais. 
Não temos de usar um vocabulário rebuscado entre pessoas simples. Mas podemos sempre sermos criativos. Talvez seja essa a maior lição a aprender na nossa fala (que pode ser escrita). 
Aliás, ganhei, já faz um tempo, num aniversário meu, do meu filho, o livro "Poesia Completa" de Manuel de Barros. Ele era um desses poetas-filósofos, extremamente criativo, um velhinho, lá dos campos de Mato Grosso, que brincava muito com as palavras. Como um grande sábio, nos pedia que pensássemos. Oferecia-nos um olhar do mundo, para percebermos coisas que olhamos e não vemos, como nos fazem sentir os bons poetas. Abri o seu livro aleatoriamente, encontrei uns versos: "O que não sei fazer desmancho em frases./ Eu fiz o nada aparecer./ .../ Perder o nada é um empobrecimento." Vale a pena lê-lo, pensar sobre e aprender, né não?
Por que deixar essas palavras soltas em você? Tantos outros, com certeza, estão precisando ouvi-las. 
É um tempo especial, será que não vale a pena, dar uma respirada e pensar sobre os nossos sentimentos do mundo? Como olhamos o mundo? Temos sempre tanto a aprender...