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Jornal Diário de Suzano - 05/05/2024
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Coluna

Emoções a Mais de Mil

30 setembro 2023 - 05h00

Já faz aí uns sessenta anos que escrevo Poesia. E a vida prática do poetar nos vai ensinando coisas que podemos aprender, se deixarmos chegar. É bem provável que seja mesmo na Poesia onde se costuma lançar as emoções que na vida comum pelo longo do tempo muito provavelmente o Poeta as recolha.
As emoções talvez não possam se tornar abusadas. Se as deixamos espernear à vontade, acabamos perdendo o controle e as outras pessoas podem não nos reconhecer. Do mesmo modo o inverso, se as recolhemos demasiado, elas, reprimidas, não nos libertarão a ponto de, também, deixarmos de ser reconhecidos pelos demais. E isso pode ser mais complicado para quem usa desse processo de escrita, de comunicação, de ligação com os demais.
Em verdade, é preciso que se reconheça, somos uma mistura do que achamos que somos mais a maneira como os outros nos veem e aquilo que não deixamos ver com o modo que somos de verdade. Parece complicado? Reflita. As emoções circulam por isso tudo.
Mas como permitir o equilíbrio quando tratamos das emoções? Sei que é difícil.
A Poesia sempre permite a qualquer um que a entenda, permite a qualquer um que a aprenda, a trabalhar formas de dizer o que o Poeta queria dizer sem que fosse ele mesmo, mas aquela personagem que diz os versos do Poema na realidade.
Por isso sei que não há “uma” interpretação do Poema, de qualquer Poema. Há tantas quantas forem as leituras dos seus leitores. Isso porque nós mesmos podemos ler, e lemos definitivamente, de diversas maneiras o mesmo texto em ocasiões diferentes. Pode parecer complicado, mas pare, releia o que acabou de ler e repense.
Certa vez uma amiga, estudiosa de literatura, num Congresso, interpretou um Poema meu. Ela disse coisas que até concordava, como disse coisas que nem havia percebido, porém, eu sabia que aquele Poema poderia ser entendido de outra maneira por outra pessoa em outra ocasião. Na verdade, vamos reconhecer, nem o Autor pode dizer o que significa um Poema. Ele pode dizer o que desejou ter dito. Se o disse ou não, cabe aos leitores interpretar. Mas, e as emoções?
Pois então, como definir como verdade a emoção do Autor, a emoção do Poeta, ou a emoção do Leitor? Quem pode ousar afirmar?
Então, a Poesia pode ser maior que o Homem? Não, de modo algum. O Homem é que é imenso. Tão semelhante e tão diverso. Poesia interpreta o Ser Humano, interpreta o Olhar do Ser Humano.
Por muito tempo lecionei Semiótica, uma Ciência da Comunicação, que vai além da Linguística, pois vai além das palavras. O fato é que talvez tenha sido por isso que levamos tanto tempo para entender a diferença entre o verbo “falar” e o verbo “dizer”. Podemos falar com palavras e gestos, com sons e movimentos, do nosso jeito. Mas o que dizemos será entendido de tantas formas quantos forem os nossos Leitores no correr do tempo, conforme a emoção que dominar cada Leitor num tempo qualquer.
Ah, essas emoções...