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Jornal Diário de Suzano - 05/05/2024
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Coluna

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11 novembro 2023 - 05h00
Certa vez ouvi numa palestra que o mar nos afasta. Questionei o palestrante, que me disse estar se referindo aos navios que partem pelo mar. Sei lá, com certeza utilizam o mar para escapar de uns casos, de umas pessoas. Como paulistas, que vivem distante do oceano, sabemos bem como o mar nos encanta.
Fui seduzido pelas águas marinhas desde criança. Sempre que posso vou a um cantinho frente ao mar. Claro que amo ver aquelas águas que vão e vem. Mas amo também ouvi-las cantar. Já fui autorizado a navegar, tive mesmo Carta de Navegador, mas sei o quanto isso é complexo a muitas pessoas pelo mundo.
Para mim o mar é um elemento de sedução. E sempre senti a sua poesia que me envolvia, envolve, e envolverá por toda a vida.
Sintam comigo neste poema que compus a muitos anos:
“Jamais”
“o mar jamais nos afasta/ encanta o eterno repetir marinho/ que doce chega a meus pés/ acarinha/ vem e vai// adiante mostra a concha/ que se enrola sobre si mesma//
a sua poesia me questiona por quê/ não nos voltamos mais sobre nós mesmos/ olhar para dentro de si/ só um instante de silêncio/ a ouvir o sussurar/ das vagas a se repetir/ e nos dizer/ suavemente liquidas/ o que o vento em nosso ser/ insiste/ sem que queiramos ouvir/ reconhecer/ perceber/ somos o que vive/
dentro de nós”
Se o mar volta-se sobre si mesmo, se nos oferece um modelo de atitude, por que nos recusamos a nós mesmos? Por que não nos abrimos ao que somos, ao que desejamos ser? Por que não buscamos um caminho que nos leve a sabermos o que podemos ser, fazer, criar? Será que não queremos mesmo nos identificar? Será que não pretendemos nos ver mesmo como somos? A vida nos oferece tantos modelos, por que os deixamos passar? Talvez tenhamos de despertar dessa nossa lentidão para avançarmos ao menos a uma parcela do que poderemos vislumbrar no mundo em que escolhemos prosseguir. Certa vez, frente ao mar, o dia me foi escapando. E se foi. Quanto mais ainda haveria? Senti como se não devesse sair dali. Que a noite se fosse. A experiência me induziu a um grande experimento na vida. Não era apenas uma visão, era uma introdução a muito mais do quanto desejava descobrir, conhecer. Muito mais havia a saber no tempo que viria para mim. Um ciclo se completava. A mais deveria me preparar. Não podia me recusar, nem me esconder, nem fingir que o breve tempo de um dia se extinguia e muito ainda havia a vislumbrar a frente.
Fui construindo este poema: “Despertar”:
“lentamente/ sem se despedir/ o sol há de mergulhar/ no mar há de se despir/ há de buscar o fundo das águas/ e ir lhe despertando/ até a noite afastar//
pelo sabor da maresia/ pela brisa morna em meu rosto/ saberei ter chegado a manhã do meu dia”
Ante o mar, temos desafio. Encantemo-nos. Podemos tanto!
Por que não vê-lo como “A Porta”: “a porta escancarada do mar/ a tudo nos permite/ em plena liberdade// não mais que ilusão?//
o medo nos tolhe/ ante a imensidão estonteante/ do espaço da porta marinha/ sempre nos convidando/ a atravessar”