sábado 04 de maio de 2024Logo Rede DS Comunicação

Assine o Jornal impresso + Digital por menos de R$ 34,90 por mês, no plano anual.

Ler JornalAssine
Jornal Diário de Suzano - 04/05/2024
Envie seu vídeo(11) 4745-6900
Coluna

Wabi Sabi

25 novembro 2023 - 05h00

De verdade, nunca imaginei que chegaria tão longe no tempo. Criança já havia calculado que teria cinquenta e tal anos no início dos anos 2000, seria bem velhinho. Passei bem isso, vejo me próximo dos oitenta anos e ainda sinto muita vontade de aprender. Já pensou nisso?
Com a pandemia tivemos de nos proteger. Difícil. A alternativa era se esconder. Passei uns bons tempos no Litoral, com menos gente, se não protegia, oferecia menos risco.
Fui tentar reviver meus escritos, lançar-me a coisas novas e mais. Busquei retomar meus textos voltados ao mar em mais de cinquenta anos de Poesia. Fui iniciando uma autobiografia, coisa difícil: complexo interpretar o que vivemos. Tentei recuperar minha Yoga, coisa difícil, mas fui retomando, lentamente minhas meditações, com Mestre Osho. E fui ampliando meus poemas de Hai Kai, tendo chegado a uma centena de construções, que vou ilustrar.
Retomei forte as leituras, coisa pra não relaxar. Não achei vários dos livros que dispunha. Sei lá. Emprestei? Doei? Esqueceram de me devolver? Recolhidos em tempos difíceis lemos muito mais. De volta a Suzano o sedentarismo foi me tomando. Uma caminhadinha aqui e ali conseguia me equilibrar o mínimo. Tempos complexos.
O Hai Kai é um poema de origem japonesa centrado nos tempos ante a natureza, em como nos oferecemos às quatro estações do clima. Forma que me envolvia desde a Juventude. Já os tomei como referência em meu primeiro Mestrado, lá na Sorbonne, por 1975. Formalmente é escrito em três versos de cinco, sete e cinco sílabas. O grande Mestre desse poema permanece sendo Matsuo Bashô, lá do século XVII, mesmo no Brasil, com traduções que nem sempre recriam o que o Poeta pretendeu.
Foi aí, há já meio século, que comecei a entender o jeito de cada um ver o mundo. Os japoneses tem uma forma especial de percebê-lo. 
Tem o “Wabi Sabi” que há uns poucos anos encontrei em livro da escritora americana Beth Kempton, com esse título. Ela usou suas 270 páginas para explicitar o que isso significava, um modo de vermos como os japoneses interpretam esteticamente e se colocam de modo gentil ante o mundo. E por isso esse povo ao escrever seus Hai Kais não se afasta de sua cultura. Vejam essas visões da Kempton, onde nos propõe a natureza de um modo um tanto diverso do que costumamos fazer, contemplando: “1. a transitoriedade da vida; 2. a beleza na luz e na esc uridão; 3. os ínfimos detalhes e a vastidão do horizonte; 4. as marcas e os presentes sazonais; 5. a experiência sensorial do clima”. 
Se nos colocarmos junto a Natureza podemos não só nos sentirmos melhor, podemos fazer melhor. Assim, podemos perceber que quem diz o que o poema afirma é o leitor. A sua emoção ao se aperceber do que está representado no poema informa se o poeta alcançou o pretendido ou não. Por que então não nos colocarmos livres em nossas emoções ante o mundo?
Sei bem que os japoneses tem uma leitura especial do mundo. Mas nós também podemos com a nossa sensibilidade nos oferecermos a um novo entendimento, um novo sentimento, uma nova percepção. Pense nisso.