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Cidades

Carta entregue ao papa por bispo de Mogi alerta sobre risco à democracia no Brasil

Documento foi produzido pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns

29 setembro 2022 - 05h00Por Edgar Leite - de Suzano
O bispo diocesano de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, entregou carta ao papa Francisco alertando sobre risco à democracia do Brasil. O documento foi produzido pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Comissão Arns, e explica que “o Brasil prepara-se para escolher aqueles que irão dirigir os seus destinos, começando por quem irá assumir a presidência da República”. 
 
A carta - que pode ser lida abaixo - afirma que existem “ameaças que pairam sobre algo precioso para o povo brasileiro: a democracia”. 
 
“Marcado por profundas injustiças, mas aquinhoado pelo encontro de diferentes raças, nosso País enfrenta tempos difíceis: o desemprego alcança milhões de pessoas, a fome voltou aos lares, 690 mil vidas foram perdidas para a Covid-19, a violência explode no campo ou na cidade e nossas florestas continuam a ser consumidas pelas queimadas, pelo contrabando de madeira, pela mineração desenfreada que contamina os rios, mata os peixes, envenena as pessoas”. 
 
O documento faz menção às eleições de 2 de outubro. “...os eleitores vão às urnas pressionados não só pelas vicissitudes da vida, mas pelas ameaças de ruptura da ordem democrática. São ameaças que partem de quem parece não aceitar um resultado eleitoral que não lhe favoreça”, diz um trecho do documento.
 
Porque a carta foi entregue pelo bispo de mogi?
 
O bispo de Mogi das Cruzes é também presidente da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
 
A carta foi entregue na sexta-feira passada (23 de setembro) e obtida ontem pelo DS. 
 
O bispo foi o portador do documento solicitando o apoio do papa Francisco para que a sociedade brasileira possa exercer o direito fundamental “de escolher um futuro melhor e mais decente para si mesma”, nas próximas eleições. Dom Pedro participou da etapa final da visita que realiza ao lado de outros bispos paulistas no Vaticano. 
 
“O papa Francisco ainda abriu aos bispos a possibilidade de relatar alguma experiência de prática pastoral junto aos mais pobres. Foram mencionadas experiências ligadas às pastorais sociais e às cáritas diocesanas (povo de rua, lixão, etc). Fez-se também referência ao momento atual do Brasil, a poucos dias das eleições para deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República”, disse o bispo em comunicado após o evento.
 
Segundo ele, o papa mostrou-se solidário aos esforços da Igreja e de toda a sociedade organizada para serenar os ânimos e evitar a violência. “Sobretudo, haja vigilância para que os resultados das eleições sejam reconhecidos e a democracia seja preservada e fortalecida”.
 
Ele disse também que o encontro foi “rico em conteúdo, num ambiente alegre e descontraído, que possibilitou uma forte experiência de amizade e fraternidade, geradora de entusiasmo e ânimo para os bispos, suas dioceses e todo o povo de Deus”. 
 
Leia na íntegra a carta
 
É com profunda admiração, humildade e sentido de urgência que a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns dirige-se à Vossa Santidade nesta carta. O Brasil prepara-se para escolher aqueles que irão dirigir os seus destinos, começando por quem irá assumir a presidência da República. Seria um momento de júbilo, de coesão nacional e de afirmação da soberania popular não fossem as ameaças que pairam sobre algo precioso para o povo brasileiro: a democracia. E, no centro dela, o direito de 156 milhões de eleitores brasileiros escolherem seus representantes em clima de respeito, liberdade e paz.

Marcado por profundas injustiças, mas aquinhoado pelo encontro de diferentes raças, nosso país enfrenta tempos difíceis: o desemprego alcança milhões de pessoas, a fome voltou aos lares, 690 mil vidas foram perdidas para a Covid-19, a violência explode no campo ou na cidade e nossas florestas continuam a ser consumidas pelas queimadas, pelo contrabando de madeira, pela mineração desenfreada que contamina os rios, mata os peixes, envenena as pessoas. Problemas não faltam neste vasto Brasil que teria tudo para abraçar um projeto de futuro promissor, voltado ao bem comum, com inclusão, justiça social e solidariedade.

No entanto, neste 2 de outubro de 2022, os eleitores vão às urnas pressionados não só pelas vicissitudes da vida, mas pelas ameaças de ruptura da ordem democrática. São ameaças que partem de quem parece não aceitar um resultado eleitoral que não lhe favoreça. Que são diuturnamente inflamadas pelo discurso de ódio propagado a partir de gabinetes oficiais, para dividir os brasileiros, jogando uns contra os outros. Que estigmatizam mulheres, afrodescendentes, indígenas, fiéis de distintas religiões, promovendo sobretudo o extermínio da juventude negra e pobre, no contexto de um projeto criminoso de armar a população.
 
Santo Padre, por isso vimos à Vossa presença pedir pela sociedade brasileira: que ela possa exercer o direito fundamental de escolher um futuro melhor e mais decente para si mesma. Brasileiras e brasileiros de todos os rincões, de todas as culturas e todos os credos, precisam do Vosso olhar e do Vosso apoio neste momento. É o que solicita esta Comissão Arns que, em 2020, no primeiro ano da pandemia, celebrou o “Pacto Pela Vida e Pelo Brasil” ao lado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em um manifesto endossado por todo o país.

Lembramo-nos das Vossas palavras no Santuário de Aparecida, em 2013, no marco da Jornada Mundial da Juventude, quando, referindo-se aos “construtores do futuro”, Vossa Santidade salientou a importância de manter a coragem, de viver a fé quando o desânimo nos abate e de impedir que a esperança se apague nos corações. Vossa mensagem segue viva entre nós, ecoando nosso patrono, Dom Paulo Evaristo Arns, e nos dando forças para ir adiante na luta pelos direitos humanos de todos e, em particular, dos injustiçados e vulneráveis.

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