Relatos de gestores de funerárias de Suzano indicam aumento no número de mortes por pneumonia, broncopneumonia e doenças respiratórias desde o início da pandemia do novo coronavírus.
A Ageplan chegou a registrar 20 mortes por insuficiência respiratória em apenas uma semana.
Quase todas as pessoas entrevistadas pelo DS relataram a mesma coisa: que muitos casos chegam às funerárias classificados como "problemas respiratórios" ou "aguardando resultado de exame".
Em vários deles, os corpos são enterrados antes mesmo de o resultado do exame sair.
Priscila Castello, gerente geral da Ageplan, diz que 90% dos serviços solicitados são referentes às pessoas que morrem de insuficiência respiratória ou pneumonia.
A média normal da unidade é de dois a três óbitos por dia, independente da causa. Mas, no início da quarentena, o número em uma semana chegou a 20, apenas de problemas respiratórios.
"No papel, consta insuficiência respiratória ou pneumonia. Mas o número de óbitos por esses motivos triplicou desde o inicio da pandemia", relata. "Há duas semanas, o número de mortes aumentou bastante. Ainda estão vindo corpos como insuficiência respiratória", seguiu a gerente.
Ela conta que a unidade já recebeu três corpos confirmados com Covid-19 (um de Suzano, um de Mogi das Cruzes e um do bairro do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo), e que, em todos os casos, o procedimento foi o mesmo. "Não podemos mais arrumar, porque se torna contaminante para o funcionário. O caixão é lacrado. Agora é direto, não vão ter mais velórios", disse.
Cida Afonso é agente funerária na unidade. Ela reforçou a informação de Priscila e acrescentou que, em determinado momento, chegou a recolher 14 corpos em um intervalo de dois dias - todos pelo mesmo motivo. "Peguei 14 óbitos com insuficiência respiratória em dois dias. Não é normal acontecer tanto com a mesma causa/morte", disse. "Antes do isolamento, realmente tivemos muitos óbitos, mas depois, o número começou a cair".
A situação é parecida na funerária São Lucas. A unidade está recebendo muitos casos diagnosticados como broncopneumonia. Uma funcionária da unidade disse à reportagem que as pessoas estão sendo enterradas antes da confirmação da doença.
"Primeiro a pessoa é enterrada para depois confirmarem. Em Suzano, os casos estão chegando como 'aguardando exame'. Às vezes, nem a família sabe se a vítima está com Covid-19", disse a funcionária. Henrique Oliveira, gestor da funerária Assibraff, em Suzano, expôs a preocupação dos funcionários da unidade por conta do novo coronavírus. No local, cerca de 60% dos casos chegam como "doenças respiratórias".
O número é considerado comum, mas com a nova doença, os funcionários estão com medo de realizar os atendimentos. "Estão todos apreensivos e se cuidando. Estamos com medo e preocupados, mas até o momento, não tivemos confirmação de Covid-19. Não vou falar um número muito alto, para não ser leviano.
Mas cerca de 60% dos casos, sempre vieram com insuficiência respiratória", disse o gestor que, apesar da situação, conta que o movimento na funerária está "normal". "A gente esperava que fôssemos ter uma situação desesperadora, mas Deus tem nos guardado e está tudo bem tranquilo".
Um funcionário da São Geraldo, que se identificou como Carlos, diz que o número de casos de doenças respiratórias na unidade foi menor do que o que vem sendo relatado por outras funerárias. Ele também diz que o movimento está tranquilo no local. "Tivemos uns quatro casos nos últimos 30 dias. O movimento está como se não houvesse coronavírus", disse.
Corpos com suspeita ou confirmação de Covid-19
são enterrados sem velório
Os corpos de vítimas com suspeita ou confirmação do novo coronavírus estão sendo enterrados sem velório por funerárias de Suzano. O temor pela contaminação pelo Covid-19 tem feito com que elas recolham os cadáveres sem tocá-los. Henrique Oliveira, gestor da funerária Assibraff em Suzano, diz que as pessoas que estão morrendo com suspeita ou confirmação do Covid-19, estão sendo colocadas em sacos, que são lacrados em seguida. Os corpos são colocados dentro do caixão, que também é lacrado e levado para o cemitério. "Desde o princípio, estão sendo adotadas algumas medidas totalmente diferentes das que estamos acostumados. Em 100% das mortes, os caixões estão sendo lacrados. Quando há uma suspeita ou comprovação do Covid-19, o corpo já sai do hospital dentro do saco de recolho lacrado. A gente só põe na urna, lacra no local mesmo e leva para o cemitério", conta.
Segundo ele, em outros casos (inclusive homicídios, atropelamentos, etc), os velórios até acontecem, mas são mais curtos e, em todos, com caixão lacrado. "Todos nós estamos conscientizando os familiares de que só podem ficar nas salas, no máximo, 10 pessoas, para as duas horas de duração destes velórios", revelou.
Priscila Castello, gerente geral da funerária Ageplan, diz que os funcionários não podem mais dar banho e arrumar o cadáver, mesmo que não tenha a confirmação de Covid-19. Mesmo em casos suspeitos, a pessoa é enterrada sem velório.
"Não podemos arrumar corpos com suspeita ou confirmação. O caixão é lacrado. Antes deixavam quatro horas, agora é enterro direto. Não pode trocar de roupa, porque se torna totalmente contaminante para os funcionários. Do jeito que a gente pega no hospital, já lacra e manda para sepultamento. É triste para a família", conta.
Enterro sem Covid-19
João de Oliveira, proprietário da funerária C.B.O em Suzano, diz que corpos com o Covid-19 confirmado estão sendo enterrados sem velório. Ele diz que pessoas com outras doenças respiratórias são veladas por duas horas. Oliveira afirma que as funerárias que estão enterrando pessoas com outras doenças respiratórias sem velar estão agindo de má fé. "A verdade é uma só: algumas funerárias têm funcionários que não querem arrumar os corpos. Aí ficam 'metendo o louco' nas famílias e se aproveitando, pois têm preguiça de arrumar o corpo", disse.
De máscaras a banhos no trabalho: funerárias se previnem do coronavírus
Máscaras, luvas, macacões, botas, aventais e até banhos frequentes no próprio local de trabalho. Essas são algumas das medidas adotadas por funerárias de Suzano para evitar a transmissão do novo coronavírus.
Os locais também estão adotando cuidados com as famílias, principalmente daqueles que morreram com suspeita ou confirmação de Covid-19. Em alguns casos, os funcionários evitam até se aproximar das pessoas.
Na Ageplan, os agentes tomam banhos frequentes na própria funerária e deixam os macacões no local. A gerente Priscila Castello diz que o laboratório é lavado é lavado todos os dias.
"Os meninos usam o uniforme que não pode sair da empresa. Todo o 'entra e sai', é banho nos funcionários. Tomam banho antes de ir embora. Eles estão usando botas, óculos, aventais e delimitamos uma distância das famílias, porque elas podem estar transportando o vírus. Algumas questões burocráticas precisam ser feitas, então tomamos esse cuidado com todos", diz a gerente.
"A Vigilância (Sanitária, de Suzano) forneceu um manual para nós, com equipamentos recomendados para esta época. Eles usam macacão, máscaras, óculos, botas e dois tipos de luvas", conta um funcionário que se identificou como Carlos, da São Geraldo. João de Oliveira, proprietário da funerária C.B.O diz que a funerária está "respaldada" equipamentos que protegem contra o coronavírus. "Estamos usando os EPIs completos. Em todos os corpos que vamos manusear, usamos equipamentos de segurança, como máscaras, luvas e até toucas".




Funerárias registram aumento no número de mortos por doenças respiratórias - (Foto: Divulgação)




