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Jornal Diário de Suzano - 05/05/2024
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Coluna

Ciência e Religião para salvar o Planeta

05 outubro 2023 - 05h00

Em 2006, o biólogo e entomologista Edward Wilson publicou um livro chamado "A Criação: como salvar a vida na Terra", composto por 17 capítulos e organizado em cinco partes. A mensagem central do livro está no primeiro capítulo chamado "Carta a um pastor evangélico: saudação". O referido capítulo é uma carta do autor, Edward Wilson (1929-2021) endereçada a um Pastor para "consulta-lo e pedir-lhe ajuda". Depois de apresentar-se como um humanista secular sugere que deixem de lado suas diferenças a fim de salvar a Criação, dado que a defesa da Natureza viva é um valor universal e prossegue afirmando que "hoje a religião e a ciência são as duas forças mais poderosas do mundo, inclusive e especialmente nos Estados Unidos".
Em 2015, foi a vez do Papa Francisco escrever uma Carta Encíclica chamada "Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum" em que exorta o mundo a olhar para a criação: o Planeta e nele inserida a humanidade, tanto em termos ambientais quanto sociais. Nesta Carta, organizada em 06 capítulos, o Papa também chama a atenção para o diálogo das ciências com as religiões (parágrafos 199 a 201) e sobretudo para a ação política (capítulo 5). Neste 04 de outubro de 2023, dia de São Francisco de Assis, o mesmo Papa Francisco que escrevera a "Laudato Si" em 2015, apresenta uma nova Carta, desta vez, uma Exortação Apostólica direcionada "a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática".
Naquela ocasião, o Papa denunciava as mazelas e os maus tratos com o Planeta e apresentava sua "profunda preocupação pelo cuidado da nossa casa comum". Nesta Carta de 2023, o Papa se mostra ainda mais preocupado porque "com o passar do tempo, dou-me conta de que não reagimos de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe, está-se esboroando e talvez aproximando de um ponto de rutura".
O que os cientistas dizem há tempos, o Papa reafirma reconhecendo que "o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias". Esse impacto, será sentido de forma desigual entre pobres e ricos "em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos". Para o Papa, os pobres pagam a conta dos ricos, uma vez que "uma reduzida percentagem mais rica do planeta polui mais do que os 50% mais pobres de toda a população mundial e que a emissão per capita dos países mais ricos é muitas vezes superior à dos mais pobres".
Diante do exposto, afirma o Papa que "o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites". Então é preciso agir. A exploração do Planeta e do humano pelo humano deve ser tratada no campo da política, tanto local, nacional quanto internacional. O Papa, o fazer uma análise de conjuntura internacional, conclama os governantes a levarem a sério a próxima Conferência da Partes (COP-28) que será realizada nos Emirados Árabes Unidos. Para o Papa, nessa Conferência, "devemos superar a lógica de nos apresentarmos sensíveis ao problema e, ao mesmo tempo, não termos a coragem de efetuar mudanças substanciais". É chegado o momento de "acabar com a atitude irresponsável que apresenta a questão apenas como ambiental, "verde", romântica, muitas vezes ridicularizada por interesses económicos". Trata-se, efetivamente de "um problema humano e social em sentido amplo e em diversos níveis" que requer o envolvimento de todos. E o Papa é assertivo e propositivo: é fundamental que tenhamos, a partir da COP-28, "fórmulas vinculantes de transição energética com três caraterísticas: eficientes, vinculantes e facilmente monitoráveis, a fim de se iniciar um novo processo que seja drástico, intenso e possa contar com o empenhamento de todos". Uma das belezas desta Carta é a retomada do pensamento franciscano de que a humanidade não deve subjugar a natureza, mas deve reconhecer-se como parte absolutamente integrada a ela. E assim seguimos, buscando mobilizar ciência, política e religião para salvar o Planeta. Vida longa ao Papa Francisco que a cada dia reafirma a humanidade como parte integrada da natureza e conclama as "pessoas de boa vontade" a se unirem e agirem contra os exploradores tanto da parcela pobre e vulnerável da humanidade quanto dos meios naturais.