quarta 08 de maio de 2024Logo Rede DS Comunicação

Assine o Jornal impresso + Digital por menos de R$ 34,90 por mês, no plano anual.

Ler JornalAssine
Jornal Diário de Suzano - 08/05/2024
Envie seu vídeo(11) 4745-6900
Coluna

Pandemia e Mudanças Climáticas

28 abril 2020 - 23h59
Existe relação entre a Pandemia que assola o mundo e as mudanças climáticas que ocorrem no planeta?
O que as informações médicas indicam é que a pandemia exige, para salvar vidas, o isolamento social. O referido isolamento reduz tanto a demanda quando a produção de bens e serviços, o que implica a redução dos gases poluentes advindos principalmente dos automóveis, dos aviões, da indústria, enfim, da queima de combustível fóssil.
Então, ao mesmo tempo em que os médicos, especialistas e gestores de políticas públicas recomendam o isolamento social, os dados de satélite indicam a redução da concentração de gás carbônico (CO²) na atmosfera.
Assim, tudo indica que, em decorrência da pandemia tem se percebido a redução das emissões dos poluentes responsáveis, já há muito tempo, pelas mudanças climáticas.
Com relação a esta relação entre a Pandemia e as mudanças climáticas, o sociólogo francês Bruno Latour publicou, em 29 de março próximo passado, um artigo chamado "imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise".
Muito didático e instigante, no texto recheado de exemplos, o sociólogo distingue a crise sanitária advinda da disseminação do vírus Covid-19 como algo passageiro inserida em uma mutação ecológica duradoura e irreversível decorrente das mudanças climáticas.
O autor ainda distingue a luta política entre os ambientalistas e os capitalistas globalistas.
Os ambientalistas, reconhecem o sofrimento das pessoas, a perda dos empregos, as mortes, as condições insalubres de vida de parcela da humanidade e o trabalho hercúleo dos profissionais da saúde. Eles também encontram na crise sanitária um argumento importante para demonstrar que reduzir a produção e a emissão de gás carbônico, principal elemento que ocasiona as mudanças climáticas, é possível a despeito de todos os argumentos contrários que se ouvia deste a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92).
Por outro lado, segundo o autor, os capitalistas globalistas enxergam na crise sanitária uma oportunidade ímpar para se desvencilharem de três coisas: (a) do que sobrou de um estado de seguridade social, principalmente nos países desenvolvidos; (b) da regulação ambiental; e (c) "dessa gente que entulha o planeta", os pobres, desprezados inclusive como mão-de-obra barata.
Diante da dicotomia, o autor pergunta: queremos voltar ao que era chamado "normal" anterior à pandemia? Para os ambientalistas a resposta é um sonoro "NÃO". Se tudo para, então tudo pode ser repensado. E não se trata de repensar a redistribuição dos produtos gerados socialmente como preconizavam os socialistas do século XX, mas de inventar um socialismo que conteste a própria produção porque "a injustiça não se limita apenas à redistribuição dos frutos do progresso, mas à própria maneira de fazer o planeta produzir frutos".
Nestes termos, para o autor, não se trata de "decrescer ou viver de amor ou de brisa, mas de aprender a selecionar cada segmento deste sistema pretensamente irreversível".