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Jornal Diário de Suzano - 05/05/2024
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Coluna

Plantadores de Árvores

10 agosto 2023 - 05h00

Atualmente plantar árvore é um bom negócio. Provavelmente menos lucrativo que o desmatamento ilegal, predador, que ocupa a terra, desmata, vende a madeira, transforma a antiga floresta em terra para o plantio de soja e pasto. Ganha-se até a exaustão completa do solo.
Se por um lado, há os referidos predadores, na outra ponta há quem ganhe dinheiro governamental para "prestar serviço ambiental", plantando árvores, mantendo ou recuperando nascentes de rios, protegendo o solo. Dependendo da área e da quantidade árvores plantadas, esse plantio, desde o Protocolo de Kioto (Japão, 1997), ainda pode render "créditos de carbono".
Fico imaginando, hipoteticamente, determinados grupos econômicos que grilam a terra, desmatam, vendem a madeira, plantam soja, fazem pasto, exaurem a terra. Em seguida, os mesmos grupos econômicos recebem recursos governamentais para plantar árvores, recuperar nascentes e proteger o solo. Podem ser grupos distintos, mas poderosos e importantes economicamente de tal modo que os recursos financeiros circulam somente nesta camada da sociedade.
Apesar da transformação da terra, das árvores e da água em mercadoria, terra, árvores e água são fundamentais para a vida da humanidade e para o equilíbrio dos sistemas vivos.
Segundo Fernando Reinach (OESP, 03/09/2022), "os cientistas estimam que é necessário preservar entre 17% e 40% da superfície para evitar o colapso de sistemas vivos". Nem isso temos atualmente. Para atingirmos o patamar mínimo seria necessário desatamento zero no mundo e restauração de 2% da superfície da Terra.
Nem sempre, os plantadores de árvores eram negociantes, seja recebedores por "serviços ambientais", seja recebedores por crédito pela captura de carbono na atmosfera. Há exemplos de militantes, ativistas abnegados que merecem ser lembrados: Wangara Maathai e Javad Fayeng.
Wangara Maathai (1940-2011), queniana, bióloga, doutora em anatomia veterinária, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2004, notabilizou-se pelo Movimento Cinturão Verde Pan-Africano, fundado por ela nos anos 70 e responsável pelo plantio de 30 milhões de árvores. Quando morreu, estava cooperando com a ONU em projeto para o plantio de um bilhão de árvores.
Jadav Payeng, nascido em 1963, em Majuei, ilha de 170 mil habitantes, na Índia, começou a plantar árvores em 1979, quando observou que o Rio Bramaputra enchia, transbordava, varria o solo de nutrientes e aniquilava a vida selvagem. Não se tratava apenas de fenômeno natural, mas do resultado do encontro das águas com o território desmatado. Payeng, trabalhador da floresta sem formação acadêmica, tem sua vida e suas ações registradas no documentário "The Forrest Man" (2012), plantou em 4 décadas o equivalente a 800 campos de futebol e "sua floresta" é habitada atualmente por centenas de espécies de répteis, aves e mamíferos dentre os quais elefantes, tigres, rinocerontes, javalis e veados.
A exposição dessas experiências é interessante para que saibamos que as alternativas para a recuperação das florestas não estão apenas no campo dos "bons negócios", das finanças e na transformação do meio natural em "commodities" e "serviços". Os povos da floresta e os acadêmicos militantes podem apresentar, provavelmente, dezenas de alternativas e experiências na mesma trilha desses plantadores de árvores: Maathai e Payeng.