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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

“Os Olhos” da Minha Mãe

15 fevereiro 2019 - 22h59
Nessa quarta-feira, dia 13 de fevereiro, minha mãe estaria completando seus 95 anos. Saudade. 
Tem coisas boas, tão boas, na vida da gente, e de que tantas vezes nem nos damos conta, que em algumas oportunidades devemos, sim, destacar e deixar registrado. Esses dias alguém me perguntou se eu “ainda” tinha mãe. Esse “ainda” foi dito, com toda a certeza, em razão da minha idade. E, sem pensar muito, respondi: “Não, não tenho mais a minha mãe”. 
Depois, estava lá, pensando com os meus botões, sobre o que havia dito. A gente não perde a mãe. Mãe não nos escapa por entre os dedos. Ela está ali, dentro da gente. Sabemos, como sempre se sabe, que ela estará em nossa mente, racional, no nosso pensamento. 
Sabemos que ela estará no nosso coração emocionado. A magia da sua presença estará para sempre vincada ainda, por demais, em nossos atos. 
Aprendemos tanto com ela, com o jeito de ser de nossa mãe, que guardamos, mesmo sem o querer ou sem nos darmos plenamente conta disso. Aquelas palavras, aqueles gestos ficam, vão permanecer em nosso interior.
Minha mãe, como a sua, estará ali, em nós, talvez como algo muito mais marcante, algo como naquele verso da música americana, “deep in a dream”, “no fundo, no profundo, do (meu/seu/nosso) sonho”. 
Ninguém “perde” a mãe. Ou a gente se perde, quando a gente se engana da rota que seguia, ou que talvez devesse seguir, ou então, ela fica na gente. E seguimos repetindo aquelas palavras que ela nos dizia, e que por vezes nos incomodavam quando éramos pequenos, e que vamos reproduzindo para os nossos filhos. 
Quem teve a felicidade de ter família constituída, com pai e mãe presentes, atentos, sabe do que digo. 
Talvez até isso tenha me provocado a vontade de repeti-los. E o exemplo de minha mãe foi determinante em tantos passos da minha vida, alguns que ainda hoje não deixo de repetir, mesmo que distraído de sua origem. E sei que não sou diferente. Quem teve essa chance, do exemplo materno, não o abandona. 
Ah, que foram tantas as vezes em que me dei conta de estar repetindo atitudes de minha mãe, que aprendi com ela, sem que mesmo me apercebesse. 
Talvez não tenha feito tantos poemas como ela merecesse, mas trago, aqui e agora, alguns versos, na pretensão de marcar um modelo que pode servir a tantos. Eis o poema “Os Olhos”:
“os olhos de minha mãe sempre/ indicavam caminhos/ nas noites dos seus olhos/ brilhavam luas incandescentes/ de prata ficavam os mares/ nas rotas que me escolhi/ sei como sabia que não ia me perder/ nas coisas que não sabia/ teria o colo e suas mãos/ afagos e balanços/ segurança e perdão”//
“os olhos de minha mãe brilhavam/ o dia que um dia vai chegar/ fundos como cavernas/ protetoras do frio/ do vento ou do espinho/ chegavam lindos de cores/ como as flores da alegria/ domavam o triste/ afastavam a solidão/ rendavam de luzes ternas as ruas/ da infância eterna que me guia”
A doçura da minha mãe, a sua alegria de luz sei que me indicam a linha a seguir.