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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

Paulo Odair, o Poeta da Rua se foi

05 outubro 2018 - 23h59
O querido amigo e parceiro, Paulo Odair (da Silva), se foi. Partiu daquele modo que só uns poucos conseguem. Foi-se em uma parada cardíaca dormindo na noite dessa terça-feira, dia 2 de outubro de 2018. Iria completar seus 67 anos em 15 de novembro próximo. Vai comemorá-los em plena Luz.
Depois da perda da sua mãe, no início deste ano, de quem tomava conta com seriedade, sentia-se um pouco de baixo astral. Mas mantinha seus planos de escrita. Queria lançar outro livro no final do ano. Estava na expectativa, ele sempre surpreendia.
Conhecia-o há uns vinte e tantos anos. Aí pelos anos da década de 1990. No início do século XXI ele já mostrava uma garra enorme nas suas construções poéticas. E me dispus a publicá-lo. Cobrei sua formatação. Ele correspondeu além do que pedia. Inicialmente ele escrevia só versos livres. Indiquei que ele estudasse mais poética. Ele ultrapassou minhas propostas e um dia se propôs à construção de sonetos. Disse-lhe o quanto isso era complicado. Ele foi bem além. Exercitou-se no estilo do soneto italiano, dois tercetos e dois quartetos. E foi além, alcançou aquilo que chamei lá na minha juventude poética, de “quase-sonetos”, com o poema formal em algumas libertações.
Paulo Odair publicou onze livros. Quase todo pela Mirambava Editora, nesses últimos dez anos. Ultrapassou os limites do verso, foi ao conto breve, foi à crônica. Encantava. Ele vendia os seus livros onde fosse possível, nas filas, nas entradas de espetáculos, nas ruas, de casa em casa. E, estejam certos, vendia bem os seus livros. Era o maior best-seller de nossa Região. Muito pouco, quase nada, do que fez deixou em prateleiras de livrarias. Sabia muito bem que os brasileiros não compram ou compram muito pouco com os livreiros.
Filho de pai da Policia Militar, desde 1977, vivia na casa de seus pais em Suzano, na Vila Amorim. Ele nasceu em São Paulo, mas como mesmo dizia: “passei minha infância mudando de lugar. Às vezes cidades do interior (meu pai tinha suas transferências de acordo com a necessidade de completar o efetivo policial nas delegacias interioranas)”. Gostava muito de Atibaia e de Mairiporã, onde também morou, e, com frequência, para lá se dirigia.
Amava Suzano. Se bateu muito por nossa Cidade. Chegou a fazer parte do Conselho Municipal de Cultura, onde propunha suas ideias e projetos.
Desde muito pequeno, especialmente a partir da escola primária, começou a se interessar pela leitura e, logo em seguida, pela escrita. Seu jeito mais coloquial de expressar-se tocava mais diretamente os eventuais leitores. Já adulto decidiu escrever para expressar-se em plenitude. E foi vitorioso nessa sua empreitada.
Teve vida dura, de altos mas também muitos baixos. Mas nunca desistiu. Sempre lutou. E vejo-o como um vencedor. 
Em seu velório, junto a seus irmãos e cunhada, vinham-nos suaves e doces lembranças. Ele criou um sistema de troca de livros que durou o tempo que durou o Restaurante Popular, em Suzano. Fazia palestras, declamava poesia onde o chamassem.
Fica-nos sua saudade. Agradáveis lembranças.