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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

Quase Ileso

01 março 2019 - 23h59
Há muitos anos uma amiga, que já se foi, me pediu umas orientações sobre Poesia. Ela queria escrever poemas, mas sentia dificuldade. Pedi para ler. Ela escrevia bem, reconheci e lhe disse. Mas disse-lhe também que seus textos eram prosa, faltava a metáfora. Ele me disse que também sentia assim.
Tive, com certeza, algumas felicidades na vida. Certa vez disse serem “sortes”, mas outra amiga reclamou, “não use essa expressão”. Por vezes racionalizo para tentar entender, outras, nem assim. Não sei explicar tudo, talvez, quem sabe, só o Grande Arquiteto Do Universo, que é Deus, consiga dizer de suas causas tão benignas. Tive azares, mas nem sempre lembro. Ficaram marcas? quem não as tem?
Enfim, numa conversa recente com amigos lembrei da minha relação com o Grande Mestre Poeta Mario Quintana. Eu era um garoto, em Porto Alegre, e ele era acessível, lá na Rua da Praia, no Centro da Cidade. Eu começava a poetar, ao menos tentava. Aos dezessete e dezoito anos costumamos nos achar ótimos. Mas eu sabia que entendia pouco dessa tal de Poesia. E, com outros colegas de colégio, ia ouvi-lo. Ele nos recebia. As vezes queria ouvi-lo mais, ele me parecia lacônico. Certamente era minha ansiedade em tudo compreender, de tudo aprender o mais rápido.
E fui apendendo. Cinquenta anos depois vejo-me “Quase Ileso” ante o que já passei.
“vivi a juventude dita nos sonhos perdida/ fugi disfarçando o meu peito/ como antes já disse/ nem tanto incólume/ daqueles mais sorrateiros abraços/ e após nas ambições dos mais matreiros//
não me acabaram nem as tantas maldições/ nem me afoguei nas mágoas pelos cantos//
disso tudo já me dei mesmo conta/ depois do que se tenta na santa vida//
as tantas mulheres que amei deveras/ as que me juraram amor sem medida/ quanto aquelas de que me ausentei/ dediquei todo o meu afeto/ e perdoei as que dor me causaram// 
sei quanto os meus tropeços custaram/ eles foram muitos e seguidos/ na mesma estrada esquecida/ em que aprendi jamais se volta//
nas tantas vezes em que trôpego me lancei/ por esses tantos dias que a mim se abriram/ das causas a que me entreguei como fera/ as que tão ingênuo me dei/ escapei tanto e tantas as vezes/ sem jamais saber como/ o que só agora sei/ tem sido muito do bem/ de toda essa minha proteção// 
nesse tempo todo/ que pelas minhas mãos escorreu/ ao reconhecer a luz que se abriu/ tornei-me um homem livre/ e de bons costumes/ para glorificar a verdade e a justiça//
talvez por isso/ como hoje alcancei/ que na vontade de seguir/ direcionando a proa/ e iluminando o caminho/ restarão sempre em mim/ a música/ nos olhos que se projetam/ e/ os versos meus”
Está bem, é proteção. E onde sou diferente de você? Quem nunca se perguntou sobre o que passou, certamente nem sabe o que viveu. 
E como agradecer, senão produzindo mais e melhor? É assim que o nosso mundo anda. Disponha versos pelo seu caminho. Seu sorriso em suas mãos. A luz dos seus olhos cobrirá de pétalas o percurso. Obrigado. Bom!