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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

Graças à Vida

23 abril 2022 - 05h00

Pois é, estava lá no meu cantinho pensando, mesmo sentindo, essa coisa incrível que nos é a vida. Tinha caído na rua, as mãos doendo, como os braços, as pernas. Sou de olhar bem o chão, sei dos buracos também das calçadas. Mas me distraí, a guia era mais alta e fui ao chão no áspero asfalto.
Sinto ter de agradecer a cada manhã em que desperto e posso me aperceber. Sei, é claro, que poderia nem estar mais por aqui, ser apenas, talvez, uma lembrança para alguns, não muito mais que isso. Mas valorizo o que tenho, o que recebo. Sei ter muito a fazer e quero muito fazer bem. Talvez pareça pretensioso. Não é o que tento. Ao contrário. Sei que quanto mais simples, mais longe podemos chegar.
Sei, fui guardando tanto pelo caminho percorrido até aqui, que pode parecer longo para tantos. E que pode mesmo parecer muita coisa. Nunca pensei em reter coisas demais. No entanto, fui aprendendo muito ao longo desse tempo que fui vivendo em minha vida. E guardo quanto posso em mim mesmo. Será que fico mais pesado?
Muitos fatos e coisas me deixaram lembranças, sinais, marcas, cicatrizes, até. É a vida. Muita gente de quem me aproximei deixou-me sinais, e tantos deles são de alegria. Sei que a felicidade é um momento, não mais que um instante. Mas sei do quanto é bom.
Você já pensou em deixar exemplos bons? Talvez esse pensamento não seja fundamental. Mas sei da importância de fazer coisas boas. Sinto lindas algumas das ações que indicam caminhos positivos para outras pessoas. É o que podemos. Como garantir mais que isso?
Lembra das coisas que lhe foram ficando? Coisas possibilitadas por outros? Coisas proporcionadas por convivência, por experiência, por referência? Dessas coisas que vivemos ou que lemos, ou que ouvimos ou que aprendemos de tantos jeitos, quando nos permitimos ficar disponíveis?
Tenho vontade de fazer muitas coisas ainda, sei disso. Fica bem difícil parar. Creio que não conseguiria. E tantas dessas coisas a fazer sei que posso fazê-las, ou posso indicar como realizá-las. E talvez, feitas, possam chegar a serem interessantes para muitos outros. E coisas dessas poderão ser Ciência ou ser Arte. E ambas eu amo como prática. Ambas podem nos indicar caminhos. Já sentiu isso?
Não creio que eu seja tão diverso de outras pessoas por aí pelo mundo em que vivemos. Lembrei de uma frase que li em entrevista do Poeta Pablo Neruda: “Sou e serei sempre, antes de mais nada, o poeta do amor. Não sou poeta político, mesmo que me tenha tornado um homem político”. Aí está uma direção. E tantas são as direções a poderem ser tomadas. Ninguém pode nos garantir chegar. Mas temos de seguir. Assim se faz o caminho. Assim é a Vida. E, claro, me veio à mente uns versos de uma outra Poetisa, também do Chile, Violeta Parra, em “Gracias a la Vida”, graças à vida, agradecido à vida:
“Graças à vida que me deu tanto/ me deus dois olhos que quando os abro/ perfeitamente distingo o preto do branco”
“Graças à vida que me deu tanto/ me deu o som e o abecedário/ e com ele as palavras que penso e profiro”.