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Jornal Diário de Suzano - 28/04/2024
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Coluna

Ao meu pai

15 agosto 2023 - 05h00

Já são tantos anos sem poder comemorar essa data, que acabo deixando passar para depois falar sobre esse homem especial que foi meu pai...
Minhas lembranças me levam longe no tempo, eu ainda era quase um bebê, minha mãe esperando outro neném e meu pai cheio de preocupação com ela e comigo, afinal éramos sua família e estávamos viajando para outro Estado onde um novo emprego o aguardava.
Sempre foi assim, nunca se separou de nós por muito tempo, quando precisava mudar de emprego nos levava junto, não importando o tamanho da família que foi crescendo com o tempo.
Às vezes viajava e tratava de ser rápido nesses afastamentos, estava sempre muito próximo de nós, assim como se preocupava quando era um de nós que devia se afastar por motivo de férias e com o passar do tempo por conta do trabalho.
Quando estava em casa o víamos com frequentemente envolvido em cadernos e folhas de papel almaço onde liberava sua criatividade escrevendo poesias e longos romances. 
Também era comum vê-lo num banquinho no quintal com sua sanfona ou a gaita, tocando músicas que lembravam sua infância e algumas vezes como ele dizia, musicando suas poesias... Cuidava para que escrevêssemos certo, que pronunciássemos as palavras corretamente, não permitia apelidos entre nós, palavrões, palavras ofensivas nem pensar eram proibidas.. Talvez fosse severo demais, mas os tempos eram outros e não víamos essas atitudes como repressivas, achávamos normal sua maneira de nos criar.
Sempre que possível verificava nossas pastas escolares, sim pastas, não usávamos mochilas, abria nossos cadernos aleatoriamente, nos elogiava e também nos criticava por algum erro, por vezes nos fazendo rever velhas lições, corrigindo e insistindo para que as refizéssemos, pois, como dizia, assim aprenderíamos efetivamente. Era presente sempre, cuidava com zelo e carinho de todos nós e exigia que respeitássemos nossa mãe e a poupássemos de trabalhos mais difíceis, afinal ela também trabalhava ajudando no sustento da família. Foram poucos anos em sua companhia, mas foi um tempo valioso de aprendizado, de dedicação e muito amor, às vezes penso que sabia que seria curta a sua convivência conosco.
Em meio a tantas homenagens que vi para pais de amigos e familiares que conheço e para outros que já partiram fico imaginando o que poderia falar para ele que pudesse demonstrar todo o amor e respeito que sinto... Percebo que as palavras não seriam suficientes para externar meus sentimentos, a falta que faz em nossas vidas e principalmente na minha, pois, para mim em especial foi pai, amigo, companheiro. Muitas vezes após escrever suas poesias as lia para mim, me questionava quanto ao meu entendimento, se havia gostado e acabava me passando aquele original manuscrito para que eu datilografasse e arquivava com muitas outras... Sinto sua falta física, suas palavras, seu incentivo sempre presente com palavras positivas e animadoras, suas histórias contadas de maneira que nos envolvia e nos fazia viajar em suas memórias, com a descrição fiel do local, das pessoas e de como se trajavam, citando até mesmo os cabelos penteados sem nem um fio fora do lugar, era como se fizesse um perfeito retrato de um tempo que eu não tinha vivido, mas que parecia ser parte de minha memória também.
Então faço minhas as suas palavras... Ficou um vazio triste, de sombra, sem luz sem cor, do lugar donde partiste alheio a nossa dor...