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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

Dia Mundial dos Pobres

19 novembro 2019 - 23h59
O Papa Francisco, chefe de Estado e líder religioso, instituiu em 20 de novembro 2016 (último domingo do tempo comum), por meio da Carta Apostólica "Mesericordia et misera" (Misericórdia e Mísera), o Dia Mundial dos Pobres, celebrado na Liturgia Católica no penúltimo Domingo do Ano Litúrgico.
Comemorar ou celebrar a pobreza parece contraditório. Mas comemorar é trazer à memória. Assim, embora desejemos comemorar aniversários e conquistas, não faz mal trazer à memória situações de injustiça que nos exija reflexão e ação.
Há muitos tipos de pobreza, dentre as quais a que primeiro vem à mente, aquela que diz respeito à escassez, à ausência material, à falta do mínimo necessário para se viver, seja de comida e de água, seja de moradia e mesmo de refúgio. Pobreza como expressão da ausência de renda suficiente para o sustento próprio.
A instituição do Dia Mundial dos Pobres nos remete mais longinquamente a Francisco de Assis (1181-1226) e mais recentemente a Louis-Joseph Lebret (1897-1966) para quem a dignidade humana exigia o atendimento das necessidades básicas.
Para Lebret, há necessidades pessoais e coletivas que devem ser atendidas para o pleno desenvolvimento das capacidades humanas. As necessidades pessoais estão subdivididas em necessidades irredutíveis, necessidades de dignidade e necessidades "terciárias".
As necessidades irredutíveis são aquelas que dizem respeito às quantidades regulares de alimentos suficientes em calorias, glicídios, proteínas e lipídios, além de vestimentas, trabalho, lazer, alojamentos sadios, mobiliário básico, acesso à água, luz e calor, bem como acesso (inclusive de proximidade) a serviços médicos e farmacêuticos, educação e contato permanente com leitura, conhecimentos históricos, políticos e religiosos. O não atendimento a essas necessidades pode levar à morte.
As necessidades de dignidade, por sua vez, estão relacionadas com o convívio social e exigem por exemplo espaço em casa para receber amigos.
Finalmente, as necessidades pessoais "terciárias", relacionadas ao tempo suficiente para pensar, estudar, meditar, contemplar, criar obras de arte e rezar.
As necessidades coletivas, por sua vez, estão relacionadas ao desenvolvimento de tecnologia e bens de capital subordinados ao desenvolvimento humano. Se do ponto de vista individual, o que se busca é atender às necessidades sem consumismo; do ponto de vista coletivo o que se busca é o equilíbrio entre as nações no sentido do desenvolver tecnologia e garantir condições de produção para o atendimento das necessidades humanas em cada país.
Então refletir sobre a pobreza e sobre os pobres implica também em refletir e agir para garantir o atendimento das necessidades básicas do indivíduo e assim superar a pobreza como ensinou L-J Lebret.
Não se trata, pois, de celebrar, comemorar, pensar, refletir sobre os pobres como destinatários de obra voluntária, ou como oportunidade do cristão expiar sua culpa diante da conivência e da cumplicidade com um sistema político e econômico que gera riqueza e opulência ao mesmo tempo em que gera exclusão e pobreza. Trata-se de agir para suplantar a pobreza e garantir ao pobre direito e dignidade.