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Jornal Diário de Suzano - 26/04/2024
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Coluna

O Brasil está dividido

02 outubro 2018 - 23h59
Certa vez Otto Lara Resende escreveu uma crônica chamada "Vista Cansada" e nela dizia: "Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê".
Atualmente não vemos e não escutamos o que as pesquisas eleitorais mostram: o eleitor brasileiro cansou e está votando não para promover mas para evitar.
De cada quatro brasileiros, um vota em Jair Bolsonaro que apresentou, junto ao registro da sua candidatura, um programa de governo inexpressivo frente aos problemas do Brasil e demonstra desprezo aos direitos humanos: defende a tortura, a execução sumária e afirmou não respeitar os resultados eleitorais caso não seja eleito.
Por que Bolsonaro tem tanto voto? Cada eleitor tem sua justificativa. Escuto quatro argumentos em um universo muito restrito - colegas, conhecidos, amigos e desconhecidos que encontro nos trens e nas filas da vida. Eis as justificativas:
1. A descoberta, com a Lava Jato, que existe corrupção no Brasil. Para esse eleitor a corrupção está concentrada em um partido político e não na sociedade brasileira: cortar pela direita, usar vaga de deficiente, cortar fila são males menores para esse eleitor.
2. O incômodo com os movimentos sociais e mais especificamente com o movimento negro, o movimento feminista e o movimento LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros. Para este eleitor, o negro é folgado e as mulheres e LGBT são pervertidos que irão destruir a família tradicional brasileira.
3. O Estado protetor de incompetentes. Só não protege o próprio eleitor que vê no mercado e na meritocracia os caminhos da salvação. Esse eleitor acorda às 5 horas, usa transporte público coletivo, trabalha 8 horas diárias, gasta 4 horas para deslocamentos, vê seus direitos aviltados, mas acredita no mercado e na meritocracia.
4. Os órfãos do positivismo que procuram "ordem e progresso". A riqueza da vida e o processo permanente de construção das instituições democráticas devem ser substituídos pelo autoritarismo que impõe a ordem.
Este eleitor elegeu o PT como promotor exclusivo da corrupção, dos movimentos sociais, dos direitos sociais e da desordem. Quanto engano. Por outro lado, o PT foi incapaz de estabelecer diálogo com as forças democráticas e construiu o discurso do "nós contra eles".
O PSDB, por sua vez, entregou bandeiras importantes para o PT tais como a participação e tantas outras do governo Montoro. Em seguida, procurou a bandeira da eficiência, tentou que o governo de São Paulo a representasse mas a prática foi de ineficiência e desmonte do Estado. Depois, inventou um candidato para a capital paulista que representasse a eficiência e deu com os burros n´água. Finalmente, procurou a bandeira da "ordem e do progresso" e a perdeu para Bolsonaro. O PSDB, então, é um partido com pouca identidade, sem bandeiras, e baixa capacidade de renovação de seus quadros.
O eleitor diante do exposto, procura votar para evitar: vota em Bolsonaro ou Alckmin para evitar o PT; vota no PT ou em Ciro para evitar Bolsonaro e Alckmin.
Ainda há tempo para descansar a vista e olhar que a divisão é o pior caminho. Analisar os programas de governo e as histórias de vida dos candidatos. Perceber que Marina Silva e Eduardo Jorge oferecem um bom programa de governo e imensa capacidade de diálogo com os campos que procuram se evitar mutuamente. Enfim, é uma dupla generosa, com convergência programática e capaz de unir o Brasil.