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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Saudosos diálogos

22 abril 2019 - 23h59
Estamos vivendo um tempo bastante radical, onde não conseguimos conversar e trocar ideias.
Conversamos com nossos telefones nas redes sociais, opinamos sobre todos os assuntos e até sobre as pessoas, mas não aceitamos ser contestados, é como se vivêssemos numa ilha, onde mandamos e desmandamos, sem ser questionado por ninguém e, se por ventura alguém resolver nos contrariar, simplesmente os banimos de nossas vidas...
No caso dos pequenos aparelhos e suas redes sociais, nós simplesmente bloqueamos aqueles que nos contrariam ou que divergem de nosso modo de pensar.
Sou de um tempo em que observávamos tudo ao nosso redor e trocávamos ideias sobre o que víamos, aprendíamos e com isso nosso horizonte de conhecimentos se ampliava.
O diálogo nos levava a novas conjecturas, novos posicionamentos e até entendíamos melhor muitas coisas que de início podiam nos parecer um pouco mais complicadas.
Ríamos de nosso desconhecimento e de nossa pureza de entendimento, mas íamos evoluindo e a convivência social era muito importante, afinal vivemos numa imensa sociedade cheia de novidades e diversidades, isso a torna melhor, mais convidativa...
Atualmente quando se tem alguma dúvida, não conversamos a respeito, não queremos que ninguém saiba de nossa ignorância. Diferente de outros tempos quando o dicionário era companheiro inseparável, hoje se consulta o senhor G e, lá parece ter resposta para tudo.
Nada escapa de seu conhecimento, palavras, locais, distâncias, doenças, política, artes, tudo ali se esclarece, na solidão iluminada de um pequeno aparelho telefônico... 
Nos isolamos do mundo, acreditando saber tudo, conhecimento agora não nos falta, até outras línguas desconhecidas, conseguimos traduzir e dar um lustro de sapiência quando nos permitimos conversar. Acreditamos que estamos mais inteligentes, nos superando.
Entretanto, esse isolamento cheio de saber está permitindo que males incuráveis se apoderem das pessoas e, a depressão é a companhia mais frequente de muitos, que sem mais saber se comunicar verbalizar seus sentimentos e suas dores, muitas vezes acabam com suas vidas, acreditando que assim encontrarão a felicidade que buscam nesse conhecimento inócuo.
Esse isolamento nos priva de abraços apertados, de olhos nos olhos, de entendimento num simples gesto...
Essa falta de diálogo não permite que exponhamos nosso sofrimento e encontremos no ombro amigo o consolo e por vezes o rumo para continuar nossa caminhada.
Erguemos imensos muros que nos impede a visão, ali não enxergamos mais o maravilhoso nascer do novo dia, com o Sol espichando seus raios dourados sobre a terra, flores com abelhas e pássaros colhendo seu néctar, deixamos de apreciar a brisa leve que desarruma nossos cabelos como um carinho cheio de frescor.
Esquecemos que construir pontes é o que importa, ela nos liga aos demais. Esquecemos que trocar ideias, ouvir opiniões contrárias pode nos fortalecer, que discussões são sadias, que conversar, rir de nosso desconhecimento, fazer piada de nós mesmos faz muito bem para nossa saúde mental e física.
Para nós que viemos de outros tempos, onde conversar era vital, dá uma imensa saudade daquilo que chamávamos de comunicação...