Um dia depois de sofrer a goleada para o Palmeiras, por 4 a 0 no Brasileirão, o São Paulo teve outra dura decepção ontem. A transferência de Rodrigo Caio para o Valencia, da Espanha, foi cancelada e o jogador deve voltar ao Brasil. O desfecho negativo faz o clube deixar de receber os R$ 44 milhões pela negociação, valor que ajudaria a pagar os direitos de imagem atrasados do elenco. Em nota oficial, o Valencia disse ter desistido do reforço depois de "considerar diferentes problemas na operação". Já o São Paulo explicou que divergências contratuais é que travaram o acordo. A reportagem apurou, porém, que o atleta desistiu de ficar no clube por causa do racha interno provocado por sua contratação. A gota d'água foi ontem. O dono do clube, Peter Lim, afastou o diretor técnico, o ex-jogador Rufete, por não ter ido ao aeroporto receber o zagueiro. Fora a desavença entre os dois dirigentes, a contratação também gerou desgaste do treinador do time, o português Nuno Espírito Santo, defensor do brasileiro, com o presidente do clube espanhol, Amadeo Salvo, contrário à contratação. Rodrigo Caio se sentiu desconfortável com as divergências e temeu ser prejudicado caso continuasse no Valencia. O zagueiro de 22 anos está na Espanha desde a semana passada e tentava resolver uma série de pendências com o clube. A última delas foi feita ontem, com a realização de exames médicos. A pedido do Valencia, ele foi examinado por dois especialistas para verificar a sua condição física. A principal preocupação era o joelho esquerdo, que foi operado no ano passado para reconstruir os ligamentos cruzados - procedimento que o deixou sete meses sem atuar. Segundo pessoas que acompanharam a negociação, os exames não apontaram problemas físicos no jogador. Com o fracasso do negócio, o estafe de Rodrigo Caio se reaproximou do Atlético de Madrid. O clube da capital espanhola concorria com o Valencia para contratá-lo e só perdeu a disputa por ter proposto o pagamento de R$ 44 milhões em parcelas e não à vista como preferiu o São Paulo. IMPACTO O revés no desfecho da negociação de Rodrigo Caio vai ter impacto nas finanças do São Paulo. O clube via no dinheiro da venda uma forma de aliviar o caixa. Mas já passa a admitir o risco de no próximo dia 10 completar o quarto mês de atraso no pagamento dos direitos de imagem dos atletas. A situação incomoda os jogadores e também um dos mais experientes do plantel, o meia Michel Bastos, que reclamou ontem. "Não acho que ninguém esteja agindo de má fé, o Ataíde (Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol) conversou conosco. Mas somos trabalhadores e queremos receber". Os atletas recebem mensalmente os salários em valores divididos entre os vencimentos na carteira de trabalho e os direitos de imagem. A parcela varia entre cada jogador. "Lógico que se soubesse dessa situação antes teria colocado tudo na carteira para receber. Mas tenho certeza de que isso vai mudar", completou Michel. Na reapresentação de ontem, depois da goleada para o Palmeiras, o técnico Juan Carlos Osorio começou o dia com uma reunião com o elenco para falar sobre os erros cometidos na partida.